O QUE NOS OLHA...

Data 02/01/2010 16:01:27 | Tópico: Crónicas

Tu és um jardim de águas, de espigas com olhos de luas vertentes, no vértice dos teus grãos colhemos a vida, debulhamos os anseios, oásis refletem a tua luz quando a brancura escurece e os pés das raízes se deitam e ajoelham e morrem na dor para renascer...Sol torrencial, temperatura queimante, preciso correr, não tem mais expediente em lugar algum, é véspera de fim de ano, preciso pagar um boleto, tirar um boleto, afinal você sabe o que é boleto, por que inventaram o tal boleto? Mas, a modernidade da minha impressora não funciona, logo agora, e tenho que correr para imprimir esse tal boleto em algum lugar e pagar o que daqui há pouco vence...tudo daqui há pouco a assinatura, as contas, os mistérios, a fé, os deuses o coração sob a lança, os olhos que ardem, saio correndo, correndo...que sol, que calor, que fogueira, tenho que enfrentá-la....e vou ao carro, um forno quente para entrar, vou assar-me e eis que aquela anciã , a mesma de uns tempos atrás sinaliza-me com a mão, já sei....nem precisa dizer nada, claro que vou leva-la para casa, não pode subir o morro da colina nesse calor...Ela me sorri vejo-lhe a luz no rosto – Filha minha, vai para a colina? Não, não vou não senhora, a Colina é árdua de subir onde ela mora com o filho. – Mas, vou leva-la em casa . Ah, abençoada filha!- murmura. Agradeço sua benção é a segunda vez
ou terceira vez que a levo em casa, assim, de chofre. Não pode abrir a porta do carro, a mão torta não abre. Abro-lhe a porta, entra, acomoda-se, o olhos brilham...os olhos acesos me fixam.... – "Fui tratada como um pau véio no hospital...filha." me diz. Faz falta essa mão. Olho sua mão torta, o suor escorre-lhe das temporas, uma floresta de rugas e a luz de seu olhar agradecido me olha. Subimos o morro, pela rua de baixo, estou na praça, mora lá em cima. Deixo-a no portão de casa, sob mil bençãos.É fim de ano , é fim de ciclo, as penas caem... Faço o retorno em frente de sua casa, conversão à esquerda e do outro lado da rua meus olhos deparam com uma casinha pequena, meia-água, aqui no Paraná é uma minúscula casa de madeira com três cômodos, três peças, está sob altos muros mas tem um portão de ferro de frestas largas por onde se vê resquícios do pequeno jardim e estranhamente meus olhos esbarram com o olhar de alguém atrás do portão ,em singela guarda ... um coelho!...


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