Leio-te em linhas longas de silêncio

Data 07/07/2007 09:07:02 | Tópico: Poemas

Leio-te em linhas longas de silêncio,
numa pauta aprofundada
de um livro aberto,
quando deslizas espectro
batalhado ao mar de vento
em jangadas de chumbo.
Na mão direita o ceptro e ao lado
tridente erguido.

Para lá da alma,
para lá do mundo, reluz o grito incongruente,
no mastigo crepuscular de cornucópias famintas,
no tremeluzir de azeite em lamparinas
de génio antigo.

Emerges da sombra áspera da fogueira,
no viço de marioneta apensa em cordas esfiapadas,
no riso e nas rugas,
na boca loira do trigo incendiada,
na secura das searas…
… as searas
vergadas ao peso desmedido de um rio de chuva,
caminham-se no verdugo de um sol sem brilho.

Leio-te os passos, no palmilho d’areia,
imobilizados na paisagem onde cresceram
os desassossegos viscosos dos corpos
logo descansados em leito de pregos.

Pressinto-te, quando chegas, no hálito de rosas bravas
no odor do sal
a delimitar o horizonte
das linhas em que te leio, longas de silêncio,
cheias no ressono do mar e no estrondo dos astros
a acasalar na periferia,
nalgum lugar, entre o sagrado e o profano.

Leio-te em pautas líquidas de abandono e desengano.


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