PARABOLA DO MORTO

Data 04/01/2010 15:43:47 | Tópico: Poemas -> Humor

Uma estranha taberna pequenina
Foi aberta por mau critério
- Quem sabe se por má sorte ou má sina…
Muito pertinho do cemitério!

Quando haviam doridos funerais
Em grande pranto e clamor todos iam
Para esquecerem as dores bem reais
Entravam amargurados e bebiam

Aguardente em rodadas de dois ou três
Copos… Para esquecerem… Coitados!
Aconchegados, saíam de lá à vez
P’la porta que estreitara dos lados.

Todos contam que num aflitivo dia
O mundo ficou louco e perdido:
No horizonte o brilhante sol nascia
A família de luto aparecia
Para o enterro do ente querido.

Na taberna entraram, desesperados
Pois o morto tinha desaparecido:
Agora como faremos o funeral?
O cadáver não podia ter fugido…!
Não podiam procurá-lo no hospital…
Será que não gostara de ter morrido?

Pois não foi que o falecido acordou!?
Ressuscitou p’ra beber um bagaço!
Mas de tão bêbado se envergonhou
Com medo de lhes pregar algum cagaço
Sentou-se e moribundo lá ficou.

Para esquecer a sua triste sorte
No dia marcado para o funeral
Bebeu até perder a noção do norte
Aproximou-se de tal forma da morte
Que acabou por falecer… Afinal.

Conclusão Teológica: Se morrer, não beba!

António Casado
10 Abril 1980
Revisto para o Luso Poemas



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=113573