DISPO O MUNDO EM REDOR

Data 10/01/2010 19:02:30 | Tópico: Poemas

Leio todos os amanheceres
com nenúfares nos dedos
e malmequeres nos abraços.
Não se atrasa a hora da alvorada,
orvalho que me aquece este permanecer,
sereno e ermo,
que me envolve o laço do céu.
Caminho na direcção do sol,
como se todos os raios se transformassem em degraus de giestas.
Subo cada um com a mesma languidez,
com que lanço o beijo ao vento,
que mo devolve coroado de rosmaninho.
Introduzo-me neste panteísmo,
talvez ridículo nos outros,
mas tão real e concreto,
nos pés que lentamente
secam a chuva dos prados.
Não existe entre nós qualquer panfleto
ou palavras desenhadas,
tão pouco sinopses anacrónicas.
Sinto cada pulso no olhar,
como pedindo desculpas por me atentar neste caminho.
Vem lento e forte todo enlace que comungamos
e perco-me nesta serenidade
que me transborda a alma.
E sem livros de retórica
ou cataclismos de dialéctica,
remeto-me ao silêncio desta comicidade
e dispo o Mundo em redor.

Eduarda


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