QUEM SABE, TALVEZ UM DIA...
Data 10/01/2010 22:42:49 | Tópico: Poemas -> Amor
| Naquela misteriosa noite Sob as intensas luzes do bar Cruzámos o sorriso…
És lindo!
Soubesses os castelos que inventei Com o teu corpo…!? Quantas pedras sobrepus Para me derreter no teu calor…!? Em quantos veleiros naveguei Pelas águas cristalinas Dos teus doces lábios sensuais…!
És lindo!
Na mesa onde consumia a música No rubro uísque com gelo Falámos da arte num poema. Eras uma ode trovada à alma!
Também escrevias… Também vagueavas pelas sombras De braço dado com a solidão À porta dum espelho com o reflexo do mundo. Também mordias a sensualidade dum verso Num mosteiro de adultério Tão enclausurado quanto eu.
Num impulso frenético Nossos lábios arrancaram às palavras Um profundo e húmido beijo… Depois Como dois pássaros que recolhem ao ninho Voámos para tua casa Na asas da pressa de nos termos.
- Ficas comigo esta noite? – Perguntaste. Quem deseja partir Quando o amor se aninha nos sentidos?
Nessa noite Como dois selvagens Perdidos num matagal de luar Entregámo-nos nos braços do delírio Até o sol raiar na janela do ósculo Aveludado salivado Expandido pelas nossas sequiosas bocas.
Nessa noite corremos as cortinas da paixão Com um longo suspiro de desejo Envolvemos nossos corpos suados Numa miragem alucinante e real Depois adormecemos nos braços do cansaço No travesseiro do prazer.
Quando acordei Sentado a meu lado afagavas-me os cabelos Como quem acaricia As pétalas aveludadas duma papoila.
- Queria tanto ficar contigo…! – Murmuraste. A tua língua perdeu-se no meu ouvido Os dentes amarrotaram-me os ombros E eu enlouqueci… Mais uma vez nas asas dum prazer maior que eu Desvendei horizontes em regatos verdejantes Abri a volatilidade do peito À tua insana e maravilhosa fogueira Amei como só os loucos sabem amar Gozando de uma liberdade sem preconceitos Onde o único preceito Era a nossa imensa vontade de dar!
Depois sorri… Sabia que ias partir pelo dia adentro Para bem longe do lume que nos queimara Que eu ia ficar Deitado sobre o braseiro desta noite Com tanta vontade de ir…
Prometi esperar-te diante da porta do mesmo bar Com um arco-íris na lapela Uma rosa vermelha despontada entre os dedos Como símbolo de uma Ceuta cuja glória Apenas justificaria o regresso de Fernando!
Se um dia voltares Talvez me encontres sentado na mesma cadeira Ansioso por cruzar as nossas sombras No copo que ferve a cada trago quando o seguro Nas notas soltas das colunas da minha voz…
Talvez um dia A tua voz me enfeitice de novo Talvez um dia Mergulhe de novo na avidez do teu céu Talvez um dia Com o mesmo machado com que nos amámos Destrua a solidão que dorme na minha cama Volte a sorrir diante da ansiedade De te ter perpetuamente em mim.
Talvez um dia Construamos um ninho de harmonia No cimo dos nossos corpos esfregados Suados De tanto e tanto arderem De tanto e muito se entregarem.
Quem sabe Se o amor não baterá de novo à nossa porta Não nos empurrará pelos caminhos Dos seus misteriosos desígnios E sem que demos por isso Nós Incrédulos e desatentos Não mergulharemos no sangue um do outro Não nos consumaremos no mesmo leito Onde o perfume dos lençóis preparará um elixir Com o fluidos que espigarem do cansaço Não adormeceremos no travesseiro do sol Que ainda guarda no sono passado O suor latejante com brindámos à vida?
Talvez um dia, amor, quem sabe…?
antóniocasado Inserido no projecto Escrito ao Luar 17 Setembro 2009
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