Canto das Utopias

Data 12/01/2010 16:46:00 | Tópico: Poemas

Primeiro canto

vem a borboleta da noite ao relento
brilha com seu diadema de estrelas
solta as asas nos céus
abrindo a claridade dos batimentos que se propagam
na noite espectral, despertando os seres noctívagos
onde tudo é rumor, olhar, inumeráveis palpitações.
cumpre-se a luz no seu Zénite em reluzente desnudar
como se dormisse levemente entrelaçada, atenta
ao vibrar presente de apenas umas asas negras.

Segundo canto

tudo é acariciado pelas tuas mãos.
surpreende-as e assobia ao meu ouvido.
abre a tua chaga de mil cantos
com este hímen de puro sangue que te reclama
como se fosse uma conturbada nota que muda e sobe de tom.
não é dor. é doçura. é amor que por inteiro te enlaça,
ao roçar numa delícia ténue que jamais se esquece
pelo Pacto Sagrado
elevado ao canto quente que me imola.

Terceiro canto

porque pensaste conhecer-me
na tua solidão desamparada,
mas o fogo é espaço que nos olha e nos despe,
que altera a matéria e o destino.
não estranhes pois que eu cante
no denso e tão breve clamor de um pavio
raptando instantes de vida
para viverem comigo a minha vitória.

Quarto canto

cascatas de amor parecem me deter
obstáculos de fontes que se precipitam
brincam indolente com o fogo que se avizinha.
quem desposou a água com o fogo
ungidos de terra e vento agreste
para fecundá-los com um amor rebelde
embora tão celeste?



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