VER / NÃO VER

Data 13/01/2010 19:36:36 | Tópico: Crónicas

VER / NÃO VER

Apercebo-me de uma batida cadenciada e cada vez mais próxima de algo que me sugere uma bengala ou equivalente. Olho para trás e logo vejo que é um cego que se aproxima célere de mim. Dou um contido salto ao lado para o poupar de eventual contratempo. É um homem ainda jovem e desempenado no caminhar apesar das óbvias dificuldades. Abeira-se da passadeira e atravessa-a com segurança e no momento próprio. Fico-me a pensar na aparente justeza da natureza, compensando-o da impotência visual. Enquanto ele se afasta de mim no caminhar ligeiro e já na outra rua, fico a perguntar-me que noção de felicidade habitará aquela mente, se se trata de um cego que nunca viu o mundo que motivações e sonhos o movem. Termino a minha reflexão admitindo que ele possa ser feliz e que a relatividade das coisas possa passar por situações tão extremadas como a de ver e a de não ver.

Antonius



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=115000