
My Sister And I – A Minha Irmã E Eu
Data 14/01/2010 08:35:30 | Tópico: Poemas
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My Sister And I – A Minha Irmã E Eu
(Ano 2007, Díptico em caneta de prata e caneta de ouro e cristais sobre tela acrílica preta, 80x80 cm, Colecção Particular)
XII. O Diário
(poema XII do livro “Por Detrás das Lápides”, de Joma Sipe)
Debaixo da minha pele procuro por ruínas submersas já ocultas por um mar imenso de azul e verde misturados com o sangue e verde das planícies que fizemos para nós dois. E hoje apenas quero dizer-te que as portas de casa estão fechadas e que ocultei as janelas do vento por medo das tempestades e que no tapete da entrada ainda são os teus pés que mais são desejados e que toda a atmosfera da casa anseia pela voz do teu olhar e pelos teus passos de sabor a sal. E hoje apenas te quero falar de como limpei o sótão das teias que sempre medo te fizeram e que os fantasmas pararam de pedir por alento e abrigo e não mais mendigos do tempo batem na nossa porta. Fiz o jantar e tudo está já na mesa e na lareira ardem as últimas recordações que deixaste. E hoje, apenas hoje, quero falar-te das imensidões de escuridão que abandonaste nas palavras do diário que encontrei e que mesmo as folhas desse livro estavam húmidas de tanto choro escutarem. As páginas em branco clamam ainda pelas palavras que lhes dirias. As páginas em branco ardem agora nas chamas da lareira, gritando de desespero por ti não terem sido tocadas. Nesse teu livro, que encontrei, por entre a folhagem morta do jardim, descansam os olhares dos moribundos e repousam aves negras e sombrias e ao abri-lo descobri sonhos desfeitos e mortes há muito acontecidas e pesadelos infindáveis e noites de solidão e insónia em que as visitas de fantasmas acompanhavam as noites límpidas de sonhos incuráveis e doenças de medo e sofrimento. Nesse teu livro havia dor, a dor lancinante de esperanças mortas, de desejos saciados e do começo da perversidade, que sempre te acompanhou e ditou o teu viver. Soube então que a morte para ti veio cedo e que a ceifa já havia acontecido.
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