Flores do Mal (4)

Data 15/01/2010 16:15:43 | Tópico: Poemas

Adormece Brigitte e acorda Célia, ausentes as luzes que vestem de noite o dia que nunca se acaba. Procura no cinza do quarto circunstâncias abreviadas; segmentos dolorosos que a consciência esconde por trás da cortina do não acontecido. Sonda o corpo sob a manta e descobre-se trajada de luto, viúva de música, de vinho, de sorriso.
De olhos fechados pode ver o mundo lá fora que insiste numa normalidade que é puro desprezo: os carros em suas passarelas de asfalto; as pessoas existindo, cotidianas; a cidade agitando-se feroz como um monstro de sete braços.
Seus soluços repetem-se - como os minutos do relógio – porque a dor é o refrão da vida e os homens preferem as que não fazem perguntas.

Inventa um qualquer, estrangeiro, que lhe imprimiria um sonho nas retinas; que lhe alcançaria as mãos estendidas; que lhe concederia uma pausa na imprecisão da vida. Mas o alarme do sol lhe rouba a alegria recém nascida, põe nos seus desejos padrões do impossível e remarca para longe o amor sempre adiado.

Enterra o rosto na estampa da fronha como que para asfixiar o campo de tulipas.




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