MEUS
Data 21/01/2010 23:43:52 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| É minha A força para gritar ternura A coragem de me encontrar Após cada aventura A luta feita de sangue e mar A canção cantada Nas eternas noites de luar
É meu O silêncio emprestado à loucura O abraço que me eleva e serena O espanto rasgado nas veias O parto na tarde nevoenta O gelado frio que por vezes refreia A agitação que me atormenta
É meu O gesto incontido e repetido Nas razões tardias A lágrima que deixo caída Nas vielas sombrias O espinho aguçado da raiva Que me alcooliza todos os dias Este cemitério de vidas Esquecidas das alegrias
É meu O canto que canto sem vontade O caminho dilacerado e barrento O homem que se agita nas trevas Sem voz para um lamento
É minha A noite sem perspectivas No limite do sem fim A mulher que se entrega Porque eu sou parte de mim A inércia que me permite Ser e continuar assim
São meus Os atalhos traçados Numa planta sem norte Os cacos encontrados Na foto do passaporte Os corações dilacerados Coleccionados Num álbum de ilusões Os corpos condenados Forçados À luxúria das sensações Os lábios escravizados Amarrados Às minhas paixões
São meus Os homens abandonados À ternura Das minhas mãos!
António Casado Revisto para o Luso Poemas 17 Julho 1985
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