Para a Luso-Poeta HorrorisCausa

Data 23/01/2010 23:22:36 | Tópico: Poemas

fumo um havana enquanto me despeço
da madrugada
não do muro de berlim
que dizem na rádio
está a cair

muito menos da bola
da dita cidade
que me aguarda sobre a mesa

fumo e fumando consumo
os restos da noite
de cotovelo na ombreira
da janela virada ao sol nascente

digo o mundo está louco
sempre foi louco
continuará a sê-lo

se parasse o mundo
convidá-lo-ia a vir
aqui

não para fumar o havana
sequer para a bola
a tal da cidade do muro
que não caiu como o muro

mas para se despedir
da madrugada
de cotovelo na ombreira
espetado na ombreira
da janela virada ao sol nascente

mas o mundo
nem a diazepam lá vai
e a madrugada morre como tudo
morre
como morreu dizem o muro
o tal que caiu

e o sol nasce embora digam
que aparentemente
por que não se move
move-se o mundo

porra para a aparência
para a ciência

fumo um havana enquanto me despeço
da madrugada
não do muro de berlim
que dizem na rádio
está a cair

eu tenho
uma bola de berlim
à minha espera sobre a mesa
e observo a morte da madrugada
o nascimento do sol

e penso estou para aqui
a pensar que amo o meu mundo
este que é o meu
de cotovelo na ombreira
da janela virada ao sol nascente

e digo
pergunto à madrugada
que morre
ao sol
que nasce

merda
por que se me acabou o uísque


Xavier Zarco



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