Um parto solitário.

Data 24/01/2010 00:29:30 | Tópico: Contos

A lenha já crepitava na lareira onde todos os dias a panela de ferro cozinhava o sustento da família
Era manha cedo, no sinos da torre da igreja soavam as aves marias, sinais sonoros de um amanhecer em paz com os Deuses e a natureza.
A cozinha um espaço pequeno e simples onde a mesa encostada a parede servia para todas as actividades da família. Preparar o comer, descansar e para os miúdos fazerem os deveres quando chegavam ao fim da tarde da escola.

Era ali que tudo se passava, naquele pequeno espaço.

Como todas as manhas Maria acendia o lume e começava a preparar a sopa que alimentava a sua família
Os filhos ainda ensonados levantavam se mais tarde para engolir umas magras sopas de café com broa e ir para a escola.
O marido ainda não tinha chegado do turno da noite na fábrica.
Maria carregava no ventre mais um filho, prestes a nascer, e carregava também a solidão e a impaciência de um parto feito pelas próprias mãos. O corpo começara já a dar sinais que a criança não tardava a chegar.
Maria, preparava então a bacia da água morna, as toalhas lavadas e a tesoura com que iria cortar o cordão umbilical daquela criança.
Na solidão do seu quarto iniciava o processo transcendente da libertação daquele corpo pequenino do seu ventre para a luz do mundo.
Os gritos de dor eram silenciosos
-De que adiantava gritar
-Dizia ela. Não haveria ninguém para acudir. De cócoras agarradas aos ferros da cama a criança nascia.
Maria pegava então naquele pequeno ser, embrulhava-o nas toalhas brancas,limpava-o,dava-lhe o primeiro banho e deitava-se na cama a espera que o marido chega-se do turno da meia-noite.


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