[a serpente alumia as mãos da água]

Data 28/01/2010 15:01:30 | Tópico: Poemas

a serpente alumia as mãos da água
descendo ao olhar da pedra
dedos unhas
na floração dos sulcos de uma via
veias nervos
na demanda das entranhas
enquanto procuro
desejo
a linguagem dos pássaros
pousada em minha língua
que séculos e séculos moldaram
e nos moldou
e nos moldando apartou
da linguagem dos pássaros
e voo vou voando
vou sobre as margens de uma memória
rio que idêntico difere
no esculpir do rosto
rasgado
pelo cinzel do tempo
e no entanto permanece
o eco
o eco onde o poema nasce
imagem após imagem
sob a linguagem
eterna não a minha
a nossa
que séculos e séculos moldaram
essa outra linguagem que repousa
a dos pássaros
nos objectos nos lugares
no templo que em teu corpo existe e diz
quem és
e que o espanto desvela
quando se desvela
alumiado
não pelo gesto das mãos da água
alumiado de dentro
do próprio gesto
a serpente
no olhar da pedra


Xavier Zarco


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