A contradança

Data 05/02/2010 01:01:14 | Tópico: Prosas Poéticas



Seus olhos, fixos nos meus, assim como suas graciosas mãos, levemente repousadas sobre as minhas, eram testemunhas daquele momento único em minha vida. Por alguns minutos, ao som de uma melancólica melodia eu pude sentir um êxtase de alegria, uma mistura de amor e paixão. Todas as outras pessoas eram nada além de borrões, figuras distantes que aos poucos se esvaiam conforme o brilho de sua beleza ocupava seus lugares no salão.
Então era só você e eu, nada mais nada além que nós dois a rodar, e rodar e rodar. O sorriso aparentemente inexistente era alvo e largo dentro de nós; as palavras de amor que me dizia com seus olhares eram as mais sinceras; os beijos que me dava com seu perfume eram maravilhosos. Mas aos poucos os outros casais pareciam retornar, e o vasto e calmo salão ficou pequeno e repleto de burburinhos. Já não era possível escutar a sua respiração nem guiar-te livremente sem temer possíveis esbarrões com as demais pessoas. A música também foi sumindo, e senti suas mãos sutilmente se afastarem das minhas.
Maquinalmente inclinei-me, assim como você, e neste momento nossos olhos se fecharam, construindo nestes poucos segundos uma série de possibilidades, as mais lindas histórias de amor e aventura. Mas era apenas delírio: em pouco tempo havia de iniciar-se uma nova contra dança, estaríamos com outros companheiros, distantes um do outro, e ao longo da noite nosso efêmero romance não seria nada mais que uma vaga recordação. Contudo, guardei com afeto seu olhar de despedida, um adeus jamais dito, tampouco desejado.






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