
na horda dos carrascos
Data 05/02/2010 07:49:21 | Tópico: Poemas -> Dedicatória
| Dizes que esta viagem não é tão morte Como cega Nem de pássaros que celebram em suas asas Corações rompendo candeias -Porque não a celebram em asas nuas. Outros corações Estarão sempre nas ruas -álcool. E tu Não sentes medo da morte Tens medo sim Do frio que martela os ossos O frio que rouba ao teu coração o corpo Que ama as ruas Mas as ruas estão geladas (como bem o sabes) No seio das lobas Ofertando suas crias Aos ventos do azul celestial dos teus dedos silencio.
-para quando um pedaço de pão Matilde Para quando mais vinho E o teu sexo encontra-se erecto no que já morreu. Hoje Regressaste como quem agita os astros No vómito de fome pelas estrelas Sossegando-a; fome Numa colher de sopa limão. Matilde Copo de vinho que não beberei Ou só os pavões despem seus medos Nos casacos vermelhos Lábios de dor Uma língua trazes ao pescoço Uma língua húmida percorre o pescoço Trás o hálito e nuvem Trás um homem e trás cinza A cinza do homem No cálice debaixo dos teus lábios que sucumbiram Matilde Somos lençol e penumbra no roxo da ferida Quantos peixes alongaram no peito dos olhos -disseste E quantos coágulos no asfalto da cama Desapareceram ou morreram Porque ainda excitas os gestos Matilde -Noite veloz na sela do cavalo telefónico Sei que acreditas na lava Na lava renascentista do corpo Mas O teu corpo engole a mão Engole a astúcia Quando rouba a masturbação De um cigarro no sangue Matilde Coisas de homem Em horas cruzadas voando No cravo dos dedos Que outro nome agora Que outro nome para o novo ventre Que outro nome Para a anca dos nervos -orvalho E mulheres e deuses Fantasmas que viveram ossos dos seus ídolos Lençóis de mofo No hálito dos carrascos Corta Corta o cordão umbilical das veias Matilde E prova o veneno das uvas E dá-te aos seus passos ébrios também Porque não há outro lugar na formosa Onde podemos ouvir as sereias negras cantar Que outro lugar que não este Podemos adormecer e chorar Um ovo Matilde Enquanto Dobramos os dedos na carne da ferida aberta -trazes A faca que ceifou o sexo dos andróginos E retiras do palpável uma cintura Para as tuas vestes Incenso és agora Lunário mascando o medo no acaso da noite -riso animal debruçado na soleira do Capitão-mor Já cá andam As sanguessugas lavrando as pálpebras Matilde Néon cipreste bebendo de pé os rins Dançando cadafalsos e querubins de seda Nas tuas mãos. Hão-de esquecer-te Matilde E no largo da Sé Tu serás apenas…Fruto silvestre.
Ao Tiago Brás (um dedo na carne)
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