
Triste
Data 12/07/2007 18:50:59 | Tópico: Poemas -> Sociais
| Os teus olhos encontraram os meus Num écrã poeirento de televisão. Fizeste-me chorar cá dentro! Por que é que posso ser feliz, Quando tu não podes sequer comer? Por que me deixam viver, Se tu vais provavelmente morrer? Deixa-me tocar-te, agarrar-te, segurar-te, Deixa-me dar-te o que puder. Menino negro de olhos grandes Nos braços de sua mãe... A pele cola-se aos ossos, A barriga inchada chora, Chora as dores de uma criança Sem pão, sem leite, sem nada! Sem nada a não ser o colo Que a mãe triste lhe oferece. Surges repentinamente À frente de toda a gente, Mas estás cercado pelo vidro De um écrã poeirento... Deixa-me amar-te, meu menino, Meu pequenino, doce alma, Grita a todo o mundo Que queres viver, Que queres ser gente como toda a gente, Que queres poder crescer, Brincar, sonhar, amar! Olhos grandes como a dor Que sente, que lhe foi apresentada à força... Essa tristeza que mostras É a indiferença das gentes, Que no seu conforto se esquecem De te estender os braços, De te dar tão pouco, Mas que para ti é tanto! Como se pode compreender Que isto possa suceder, Que tu, meu menino lindo, Cercado pelo écrã poeirento, Precises tanto de nós, E nós nada façamos... Écrã frio e indiferente Que te traz para perto de nós, E te mostra tão longe, tão distante..., Que nos faz estender a mão E te leva de súbito para algures, Ou nenhures! Triste menino negro, Leva um pouco da minha alma, Tenta proteger-te nela, Deixa-te abraçar por ela. Que ela te possa dar, Num outro Mundo..., talvez..., A existência a que tens direito, O alimento para o teu ser, O amor que devias ter! Lisboa, 2001
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