PARTO À PROCURA DE MIM 2 ( Fim )

Data 07/02/2010 17:50:04 | Tópico: Poemas -> Introspecção

Quando a minha vontade é partir
Invento a viagem
Para fora do mundo...
- Lá vou eu
À procura da minha sombra
Num mundo ateu!

Parto por esse mundo fora
perdido no lugar onde estou
Sem mesmo querer saber onde vou.
Sigo o arco-íris da aurora...

Parto
Como quem deseja ir e descobre
Nos novelos dos caminhos
Que a si conduzem
O pranto duma dor miseramente pobre!

levo os sonhos e as ilusões
No bolso da esperança
Maças de promessas
Recordações
De quando´cresci
Esquecido de ser criança!

Vou para Alcácer-Quibir
Porque é lá que se encontra o pote de oiro
A brilhar no fundo do arco-íris
O duende de uma só perna
Que nos espera atrás do templo de Ísis
A seria que encanta sobre as vagas
O espírito marinheiro rebelde
Aos encontrões com as ondas por esse mar fora...

Cavalgo no dorso do meu cavalo alado
Como se a partida e a chegada
Fossem o despertar das minhas horas!

O meu olhar infantil embala-se nas ondas
Vai para bem longe...
Perde-se no horizonte
Onde uma pueril auréola branca
Embevece de paz a imensidão.

Oh Mar! Que sou eu?
Oh Tágides da minha alma
Deixai-me caminhar sobre as águas infindas
Como um cristo descrente e fútil
Que escrevesse nas entrelinhas da bíblia
As mais bleas histórias de suicidios!
Ah mar!
Porque se levantam as tuas ondas
Tão insensíveis como Adamastro
Sobre as feridas da minha eterna incompreensão?
Porque te arrastas até onde não estou?
Porque me acusas e julgas
Por não saber quem sou
Quando a meus pés
Te vejo humilhado e perdido
De nunca saberes quem és?!

Ah! Mar sem cor! Mar distante!
Mar da minha dor errante!
Do meu raciocínio indolente!
Porque te compadeces com a carne
Quando as lágrimas do meu pranto
Lamentam apenas a alma doente?

Ah Mar!
Aspiro o sal das tuas águas em forma de suplício
Mergulho a cabeça no cadafalso do meu hospício
num delírio asfixiante e fatal!
Reclamo para mim mesmo
O teu nome letal!

Quero ser como tu!´
Dá-me a tua eternidade!
O sal das tuas águas!
O brilho das tuas ondas!
A vida do teu reino!
A bacia do teu leito!

Quero ser tu
No meu mundo de esperança
Desfeito!

António Casado
19 Julho 1978
Revisto para o Luso Poemas


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