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Data 07/02/2010 21:21:11 | Tópico: Textos

- antónio franco alexandre -
quero dizer-te: não morras.
Nem me digas quem és, quem foste, como sabes
a língua que se fala sobre a terra.
Ao lume lanço
toda a vontade de viver, ser vivo,
a cautela do ar, ardendo em torno.
Passarei, terás passado em mim, só quero
dizer-te: não morras nunca, agora, nunca mais.
antónio franco alexandre




também como tu vivo na beira do penhasco, tão bem como tu sei que as pequenas dúvidas são as que mais magoam. conheço essa vontade que tinhas de rir alto, de tudo, como se o teu riso fosse capaz de abafar o silêncio. não sabias onde meter a tua solidão e não me venhas dizer que não sei do que falo, rio-me também hoje eu sem saber onde meter a minha. um dia disseste-me: "se o meu amor fosse um farolim de bicicleta...", não soube o que te dizer do teu amor que desconhecia. no fim do livro já éramos bons amigos, já bebíamos uns copos, já líamos boa poesia. já me podia rir do farolim de bicicleta à vontade, talvez do amor, sempre quis rir do amor como tu, à noite, com o aracne no colo, à espera de te ouvir gritar a humanidade. eu não sei se algum dia saberei viver como me ensinaste, nem sei se me ensinaste alguma vida, mas preciso de dizer-te esta urgência antes que me perca (é tão fácil perder o que de nós não somos): a minha idade e a tua sempre se encontrarão no mundo.





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