Repetidos momentos De repetidos pensamentos De sofridos sentimentos E algozes sofrimentos…
Olho-te nos olhos à distância Do desejo de te abraçar E não sei se serei capaz de enlaçar Nos meus braços trémulos da emoção O teu corpo…
Apetece-me correr para te dizer No segredo dum beijo na face Que o tempo tornou rugosa Que não me esqueci das histórias Que me contaste Quando eu tinha idade para me sentar No teu colo macio e acolhedor.
Estremeço de emoção Ao ouvir subliminarmente A tua voz forte e macia, Duma doçura de mel e canela, Cantando as cantigas campesinas Dos teus tempos de menino e moço E dos meus tempos de filho da paixão.
A tua voz de capataz que ordenava Com a autoridade de quem ensina Assumida na rudeza paternal Dos afectos que geram a trama Do sangue a desbravar futuro Ressoa a cada momento Na minha alma enclausurada Na alegria de te sentir presente E na solidão adivinhada Duma perda que chegará.
Queria tanto saber dizer: amo-te! Mas também de ti herdei este jeito De não saber usar as palavras Para falar das coisas que os sentimentos Mandam dizer! Às vezes ponho-me a olhar o teu retrato Dizendo baixinho (não vás tu ouvir, apesar da distância) - Obrigado, pai… E beijo as lágrimas que alagam O plano vítreo da moldura Com um desejo convulsivo de te tomar ao colo E ir por aí, gritando aos quatro ventos E à gente que se cruzar comigo: O meu pai é lindo!
Sei – ah como eu sei! Que escondes a dor num lugar que só tu Conheces E derramas as tuas lágrimas quando te calas A fingir que pensas ou sonhas… Para que ninguém te julgue frágil Ou sentimental. Tosses um catarro caturra Para fazer crer que algo te prende a garganta Ou dificulta a respiração… Mas eu sei que apenas escondes o nó Da comoção quando pigarreias assim!
Desprende-se de ti um gemido surdo Quando te abraço à chegada ou à partida E leio na forma avassaladora com que me envolves A força dum grito mudo Que quer significar, sem o dizer, “Ah, como eu gostava de saber dizer Simplesmente que gosto de ti, filho”…
Desculpa, pai, Mas eu também não sei dizer Palavras bonitas Nem envolver os sentimentos Com frases feitas ou lugares comuns…
E é por isso que tantas vezes Pergunto a mim mesmo: Como dizer: amo-te?
by PC, em 23.Jan.2010, pelas 03h00
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