ARTE E ENGENHO...

Data 15/02/2010 19:21:46 | Tópico: Poemas

(Lembrando o Abade de Jazente)

Senta-se na cadeira da habilidade
como cardume de zelo e vigia a honra da primazia.
Namora os olhos do cotovelo
e veste o barrete do fingimento,
como algo concreto que se abstrai
do beco aparelhado dos senhores letrados.
Por vezes a cama se enche de insónias
e atento descubre no céu o riso da pulga.
Morde-a no pescoço!
Não se lembra das heranças riscadas nos cuidados
e de outras coisas cansadas que mudam sempre de lugar.
Em cima do tamborete o homem senta-se com óculos na cabeça, aparelhando o tinteiro decadente.
Em disfarce de galanteria ousasse falar de rústicos rebuçados, mas com prudência não vá o regato exceder-se nas margens.
À mercê da vaidade costuram-se galhardetes
e até o dono da tabacaria parece um senhorio
que joga na decência da iguaria.
Depois de lhe terem colocado o freio,
tornou-se esposo respeitável
e vive agora como ditosa gente.
Com que arte e engenho senhores,
se vive no vintém da calada!

Eduarda




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