O caso da cutia

Data 22/02/2010 19:42:10 | Tópico: Poemas

Caminha despretensiosamente
Na mata, inocentemente
E sozinha a arisca cutia.

Quando vê a sua frente
Algo assaz diferente:
Escuras órbitas frias.

Seriam as do macaco
Que adormecera de fraco
Por tantas estripulias?

Ou as da coruja, quem sabe,
Que, antes que o dia acabe,
Dormita e prepara a vigília?

Quem dera fosse de fato,
Perdidas no meio do mato,
Esbugalhadas, as da jia,

Que depois da bóia no brejo,
Sonhava com as águas do Tejo,
Enquanto a sesta fazia.

Eis que nada disso era.
Na verdade, outra fera,
Delas, detrás se escondia.

E das órbitas diferentes,
Lágrimas incandescentes
Deram cabo da cutia.


Frederico Salvo



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