Parti para outro porto

Data 23/02/2010 22:06:45 | Tópico: Prosas Poéticas


Não comi palavras! Só letras
letras tontas que trazia no pensando, almocei já tarde.
No dia de ontem jantei calada, estava só, fui adormecer a madrugada ao som do cantarolar da chuva.

Quase morri de apetite
por isso, comi letras com molho d’ alho.

Palavras?
Não me saíram no fogo como esperava.
Amar é sério demais para exprimir um pequeno gesto que seja.
É sentimento tão bom como aquele sorriso de criança
… vejo rostos simpáticos, ali, além… transparentes no espelho
este espelho que traz o clarão dos teus olhos
e voz, a voz melodiosa que me atira ao ser mais calado de mim.

Dentro daquela peça de teatro,
extasiada! Pareço-me estar dentro do futuro perto
só existe uma utopia no que me vai cá dentro.

Amor não é compra de supermercado!
Amor não é venda exposta de farmácia!
Amor não são as páginas do livro que rasgo num sufoco, quando estou quase morta de cansaço! Nem o incerto do dar-te e receber-te como troca
isso é troca de mercadoria. É preciso intensidade!
Por isso,
acordei triste dentro de uma poção mágica dada em dose certa

Vou a voar,
voar mar adentro como a gaivota sem vento a sair do seu porto.
A mesma cadeira, a mesma caldeira
fiz-me sentar à mesa de novo num novo agora sem prato e sem bebida quente.

Tranco-me!
Tranco-me no escuro do meu silêncio
ouço a chuva cair arduamente
como as pedras de gelo atiradas ao copo e me apunhala o peito.

Oh tristeza inútil vai! Vai nessas asas soltas…
… exuberante!

Hás-de conseguir chegar ao teu ponto máximo, nem que me tombes!
Hás-de sentir que farás de mim um ser, mais ameno. Depois,
depois dessa tempestade toda sei que o tremor será ausência
e virá o fogo para dela poder partir sem mais desejo de ficar triste.

Porque há noites assim assim a queimar o que somos
como se fosse algo intenso quase eterno e sem pressa.
Hás-de ir até que a madrugada avance a cansar os desejos
mas que sejas tão sóbria como eloquente!

Logo, l
logo vou vestir-me de gala e sapato preto.
Vou comer todas as palavras que não te disse ontem!
Vou beber todas as letras que ficaram suspensas
na minha sopa de legumes arrancados do pensamento.

Logo,
não quero ser poeta!
Não quero fingir que sou…
… serei poente com nortada forte
e hilaridades risonhas…
… almoçarei ainda à noite, sem ti
mas jantarei no meio do meu dia seguinte, feliz.

À mas depois,
irei repousar de novo para adormecer como os pardais a dormir nas searas, escondidos nas ânsias dos sonhos.
Os sonhos que me embriagam os suspiros redondos e doces…

… neste explosivo caderno demente
que me abraça tão ternamente!
E nos teus braços irei saber que te estimo tanto!





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