
Florbela e eu
Data 16/07/2007 18:28:18 | Tópico: Poemas -> Dedicatória
| Inventei-me num abençoado dia poetisa, Sem imaginar (inconsequente!) o que fazia. E num livro, incrédula, descobri, Uma rainha, sonetista de pura magia! Em rimas descrevia-me toda a alma, Com doces palavras rasgava-me o peito, De sonetos povoava a minha angústia. Trazia no colo uma pesada cruz: Mulher sofredora ou diamante em flor... Coabitava com apaixonadas amarguras, E reinventava o amor no peito em chamas, Por ser tão desditosa, tão mal amada. Nasceram-lhe assim excelsos versos, Encrostados nas delicadas mãos de fada. Foi criando poemas, como que amados filhos, Bailando mansamente em pedras de cetim. Ofertou-me este gosto doido pela poesia E um deleitoso teimar em ser poetisa. Mas, ainda que mil poemas eu fizesse, Não chegaria sequer a tocar-lhe os pés. Partilhamos a sina das mulheres desgraçadas, Vivendo desafortunados amores em cinzas E sonhando jubilosas vidas de pó e nada. Descontentes, loucas, incompreendidas... A dor adormece-nos subtilmente os sentidos, Como se desfolhasse-mos lágrimas de sal. Tristes madrugadas ou exultante desalento? Cânticos dissonantes, perfumados de jasmim. Lamentos compadecidos, perdidos no vento... Florbela, quisera eu, um dia, ser poetisa assim!
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