LUSO POEMAS - A VOZ DO POEMA

Data 01/03/2010 03:46:40 | Tópico: Mensagens -> Desabafo

Sem dúvida alguma que somos um país de poetas. Sem dúvida alguma que a poesia nasce-nos nos dedos como uma flor brota da terra e só nos resta a aptidão de colhe-la. Esse é o trabalho do poeta. Inventar o jardim colher o poema que inventar. Porém há um senão... Para se colher a flor da poesia é preciso ter olhos para a ver. Ela está lá, onde sempre esteve e estará, porém os personagens que com ela se cruzam diferem quer na maneira de ver, quer na cegueira de a sentir.
Quando me pergunto: Serão poesia os meus textos? Por vezes fico na dúvida... Já li tantos poemas lindos! Já li tantos autores magníficos! Juntos deles sinto-me o eterno aprendiz de algo que me ultrapassa, não sei o que é, e me leva a escrever.
Lembro-me de nomes como Adolfo Casais Monteiro, António Botto, Ary dos Santos, Eduíno de Jesus, Sofia de Mello Anderson...e tantos, tantos outros que fizeram coisas tão lindas...! Quem sou eu junto de António Nobre? Fernando Pessoa? Já nem falo dum Bocage, dum Camões, dum Guerra junqueiro... Afinal, o que pretendo eu? A minha humildade apenas me permite tentar colher a flor que vejo e dizer-vos como a vejo. Uma vezes melhor, outra pior, mas sempre tentando fazê-lo de forma a conseguir dois objectivos:
1º Transmitir uma mensagem que todos entendem.
2º Criar momentos de alguma beleza.
Se o consigo algumas vezes, então valeu a pena. Quando não consigo, resta-me a esperança de outra flor porque, quer queira quer não, eu sempre vivi nesse jardim onde a beleza é tal que jamais a conseguiria descrever.
Voltando à questão. São todos os que me lêem, os que comentam - não apenas no luso - os que conhecem o meu trabalho, os que sabem o que sou e o que faço, que poderão opinar.
Sei que muitas opiniões aqui no luso vão em conformidade com a simpatia pelo autor, talvez nem seja o meu caso porque não conheço ninguém e resido neste cantinho há três meses. No entanto o encorajamento que sobressai dos comentários e que ultrapassa em muitos casos o poema ou texto, anima-me e convence-me de que este é um caminho. O caminho que sigo, como sempre o segui.
Para que serve este desabafo? Pois bem, a poesia deve e tem de ser sentida com a alma. Agora dirão vocês: Pois, mas os textos apresentados são na sua essência gays (tomo por gays todos os não heterossexuais). Pois sim, mas essa é a temática, não a estrutura. Do que falo é da estrutura das palavras. Posso pôr a questão desta forma: Que pretendo eu dum poema para além dos dois objectivos já mencionados?
Mais que apresentar um objectivo, mais que tentar a beleza na metáfora, mais que tudo, falar da experiência vivida, dos sorrisos que lancei e das dores que tive, do mundo que me rodeia e me faz doer (e tão pouco é poesia). Essa sim, é a essência. O sentir é mais importante que a palavra.
Cabe ao poeta o ingrato papel de transmitir o sentimento de uma forma perceptível. É nesse caminho que devemos estar para podermos dizer: Sou poeta.
Excluo deste âmbito o elitismo pois considero que apenas assassinam o poema em círculos viciosos de assuntos tão subjectivos quanto a função da escrita. Isto nada tem de critica ao movimento subjectivista, claro. Tão pouco ao surrealismo.
Apenas quero referir que o leitor é aquele que está numa posição diferente da nossa e não entende a poesia, mas entende a mensagem. Podem alegar agora que isto é loucura. Não, não é. Saiam à rua e oiçam. Ouvirão certamente comentários do género:
"Não gosto de poesia porque é de difícil compreensão". Estúpida conclusão a que chego. Para entenderem comparem a poesia de Vitorino Nemésio com António Gedeão. Muito conhecerão o segundo, mas ignorarão a poesia do primeiro. Não retiro mérito a ninguém e continuo a falar da estrutura e não da temática.
Para terminar - o poema deve fazer-nos sonhar seja com aquilo que for e esse é o ambito da mensagem. Sonhem e escrevam e o poema nascerá!

Muito obrigado a todos.
antóniocasado


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