Na Foz do Teu Corpo

Data 02/03/2010 12:15:21 | Tópico: Poemas



Na Foz do Teu Corpo

(Ano 2008, Painel em caneta de prata e ouro e cristais sobre tela acrílica preta, 120x60 cm, Colecção Particular)

Pessoalmente sou como o vento.
sem destino, nem morada.
Sem desejos e tudo desejando.
Interiormente sou como a luz,
que oscila entre a claridade e a obscuridade,
sempre entre o norte e o sul,
dias de calma e de tempestade,
noites de lua cheia e lua nova,
em que ouço o canto das corujas,
junto às árvores que acompanham as lápides no terreiro
e no descampado estéril
tocam os céus
para os transformar em cinza e obscuridade
que termina em intensas chuvas
que amenizam a dor luminosa
das muitas noites sem conseguir dormir
em que me recordo do que eras e do que foste para mim.
E perco-me nesses rios de murmúrios, acalentados pela dor da tua partida.
As noites claras em pranto das minhas recordações
não mais são luzes
que brilham no oceano
que com embarcações de velas negras se confundem,
dando-me esperanças de fuga e de desterro,
de afastamento e de exílio.
De dentro procuro o sono,
que não chega.
E o quarto enche-se de novo
com o odor da tua presença
e a cama grita pelo teu corpo
e os lençóis de mar anseiam pelo coral da tua pele
e pela união com os rios de lava e prazer
que à foz dos meus sentidos afluem.
Como queria misturar minhas águas com as tuas
e afogar-me na tua foz
e que as tuas entranhas se fundissem com as minhas
e que as águas fossem apenas uma
e morressem no final da viagem,
como quando os rios
O mar encontram.





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