
Limítelis
Data 10/03/2010 15:38:18 | Tópico: Poemas
| Copyright © Fabbio Cortez In Publico Cativo, Oficina Editores, Rio de Janeiro, 2007 i
a meta
correndo faço planos nas esquinas de céu sempre sozinho pretendo seguir como voam românticos colhendo estrelas da rua na procura do teu ar da tua pista dizendo pela cor da tua voz pela textura da tua tez vou sairei em viagem saboreando os elementos muito mais que todos ventando o cheiro do fogo que lambe teus olhos que dissemina da terra teus cabelos de água
ii
fraqueza
mas não penses que sou ingênuo pois que sou fraco e bem sei que é preciso ser forte para ser ingênuo
iii
alimento
a imagem que transborda do teu minério delirante é delícia do pensamento que dilacero na tua boca ferrosa em doce moderno - fruta suculenta que dá força - alimentar-me-ei catando perfeições simples da vida sarando o caminho da busca
iv
a partida
parto em ciclos corro escorro salivando esse açúcar compulsivo atiro-me à tua feminina seiva torpe nu: alucinadas voadoras mãos de defesa irregularidades da terra raízes música da noite insetos da noite esperam secos por minha cara estúpida: esbofeteiam-me quando passo mas não sinto meus fios encravados da barba por fazer: (grato por isso sangue fervilhante da jornada)
v
deliberações da morte
corro morro desmorro desembesto para o amor esgotando os músculos da psique ao lembrar que não toquei teus pêlos todos sequer do modo levíssimo como poderia ter tocado com toda a sensibilidade do mundo (um mudo) (a que me foi dada de presente como dom especial e de que tu nem conheceste a amostra de cílio): demais te amo demais ainda e mais: de tanta querença e tão tão sério apego dilacerantemente surdo adesivo de derme como verme até morri convenceu-me a morte pela sorte distraída preferi morrer mas não paro: ao faro da saída corro!
vi
a travessia
então na fronteira que a razão refaz com o tal do amor (...?...) atravesso-me sublimado: muro alto invisível intransponível para alguns sentimentos menores agora vivo do outro lado desse véu de imagem turva desconectando forças e pedras mágicas dos meus restantes olhos reconstruindo-me lá onde o desespero encontra o sublime e o perfeito mesmo a calma inexplicável num equilíbrio raro impossível-possível
vii
comiseração
assisto com tristeza - é verdade - à perdição incomensurável a dor destoutro ser e era eu: fito-o lá morto cantando a morte num grito de voz escura cravado de silêncios sentinela cega num charco estranho
não o poupou a dor humilhando-o extinguindo-o na solidão estagnadamente lavada - vergonha e covardia - sentado nas pernas fracas formigando invadido de sete mil vazios e de outros tantos medos soluçando na aspereza com que cobre o rosto
viii
o retorno
ainda bem consegui deixar-me não quis saber abandonei-me: a vida já é muito difícil cada um com sua bactéria imponente! (o mais perfeito e novo dos sentidos não se me apresenta): meneio a cabeça e esfrego a cara: “dane-se esse otário!”
desfaço a cena e volto adiante:
ix
as horas
outra pressa me persegue vive correndo desenfreadamente atrás de uma geografia sensitiva em que em me perca ao revés
mas horas covardes - não todas mas as covardes – fazem-me tropeçar no espaço-tempo-ironia
acordei na megalópole: se passares na minha frente agarrar-te-ei como animal selvagem
___________ Fabbio Cortez
Biografia: Carioca com formação em Letras, o poeta, escritor, revisor e analista da Qualidade Fabbio Cortez, com a insistência de amigos, somente em 2005 começa a compilar suas laudas e a registrá-las. Defende sempre a expressão “A Poesia é que me faz”, por entender que a Poesia, assim com “P” maiúsculo (Deus YHWH/a Poesia Maior) dirige sua vida e versos. Destaque em alguns dos poucos concursos literários em que se tem inscrito, tem sido convidado a integrar antologias, como a I Antologia de Poetas Lusófonos (Folheto Edições, 2008 - Portugal), obra lançada em Lisboa, Zurique, Paris e Rio de Janeiro, e festejada pelos presidentes do Brasil e de Portugal. Fabbio Cortez é autor do livro de poesia intitulado “Público Cativo”, da Oficina Editores, Rio, 2007 - lançado na Bienal Internacional do Livro, Rio -, prefaciado pela multiartista Leila Míccolis, e trabalha em outras obras em verso e prosa. Filiado à APPERJ - Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro.
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