QUE NÃO FOSSE ASSIM

Data 11/03/2010 03:27:36 | Tópico: Poemas

para thaís ou bia, que eu nunca mais vi.


não- não peçam que eu diga dos amores perdidos
falta-me fôlego para chorar tanto
prefiro falar das putas que amei na rua
dei dinheiro a elas e não me deram trabalho
uma só se apaixonou e quis morar comigo
eu também me apaixonei por ela
no fundo era moça pura e me fazia tudo
mas eu tinha ciúme do que ela que fazia com outros homens pra ganhar dinheiro
e eu não tinha dinheiro pra impedir que ela fizesse isso
só fingi que acreditei quando ela disse que sustentava a mãe doente
- talvez até sustentasse mesmo -
só queria morar comigo
eu era um menino bonito
não tinha rugas
nem barba
e nem os olhos inchados que trago hoje
de noitadas e álcool
talvez por isso ela se engraçou
um dia na rua brigou por mim
porque dei meu sorriso a outra mulher
sempre fui homem da rua
(na noite não se faz isso quando se tem uma mulher
que na madrugada vem encontrar seu cúmplice depois
de ter cumprido o ofício a que se dedicou
e só lhe pede amor na cama e nem sempre o bicho homem - voltando de outra farra - sabe recompensar o que lhe não foi dado num quarto de hotel a troco de dinheiro)
chamava-se thaís
na noite era bia - beatriz - nome falso - de guerra-
só eu sabia que era thaís com TH
era linda tinha um par de olhos verdes
não me pedia dinheiro - ganhava dos homens com quem se deitava e sempre fazia questão de me pagar uma cerveja antes de me levar pro quarto
pra que eu fosse seu homem de verdade e lambuzá-la do amor que ficava no branco dos lençóis
de mim queria só o amor que eu não lhe soube dar
mas é que nunca gostei que tivessem posse de mim
faço poesia porque sou muito triste
minha cama foi leito de tantas mulheres que tenho vergonha
menti a todas dizendo que as amava
hoje fumo e bebo em exagero
qualquer dia morro dos meus vícios
leio torga pessoa vinícius drummond hilda hilst
bandeira ana cristina cesar
sophia natália correia e choro
tenho uma alma lusitana meio enjoada
:misturo portugal com rio de janeiro
odeio são paulo onde nasci
nunca serei como os poetas que gosto
mas meu verso é triste
às vezes debochado
perdi meus pais e a vontade de viver também
um dia qualquer me mato
com gás porque tenho medo de altura
deste meu sétimo andar olho um quadro de lizar na parede
- herança de minha mãe -
respiro fundo e tento escrever um poema
qualquer poema
merda de vida a minha!

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júlio


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