um dia

Data 12/03/2010 01:08:02 | Tópico: Poemas

um dia,
quando a primavera for triste,
ensinar-te-ei
a arrancar pétalas
a um malmequer amarelo
como um sol redondo,
inteiro
e sem sentido.

e,
embora a inútil lição
te desagrade,
continuarão a crescer margaridas brancas
ao pé dos nossos pés descalços,
alegres ainda
face ao desprezo
dos teus olhos tristes.

e,
numa planície outra,
papoilas vermelhas
continuarão gritando
ao vento agitado
um amanhã incerto.

um dia,
quando o inverno quente
deixar de o ser,
levarei a tua mão ao peito
para que ouças.
dançarás
à roda de uma fogueira sagrada
sem qualquer razão
para deixares de te voar.

um dia,
quando o outono for breve,
perceberás
a seara ondulante
nos cabelos de uma mulher
contendo em si
o perfume das horas certas,
das coincidências misteriosas,
dos acontecimentos não planeados,
dos destinos cumpridos
nas razões ocultas
da mais pura Verdade.

e tu,
pequena parte do universo,
que és tudo
e nada és,
serás vida
serás morte
será fogo
serás cinza
serás sul
serás norte
na onda
das incansáveis marés.

um dia,
à falta de todas as estações,
à luz das mais improváveis equações,
virei visitar-te
em segredo
em sonho
em poesia

vestida de negro
no cheiro da maresia

e
levar-te-ei comigo
a ti
e às tuas
estranhas
façanhas,
a ti
e a todas as emoções
a ti e à tua
mais que certa
humanidade.






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