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Data 11/03/2010 21:01:46 | Tópico: Textos






o homem ia, corria, depressa, à frente era o coração que lhe fugia. às vezes o homem quase o alcançava, tantas vezes me pareceu que o tocava, mas em todas essas vezes era o coração que se voltava com a sua boca enorme aberta - dentes pontíagudos, mais de dez centímetros de língua - e o homem logo abrandava. chorava, chorava tanto e tão alto daquele lado da vida que eu temia que uma enchente de lágrimas me afogasse também os olhos. era assim todas as noites desde sempre, de madrugada: um corpo a correr atrás de um coração assustado, ou assustador.na minha cabeça sempre a mesma imagem: aquele coração de boca assim aberta, enorme, lá dentro podiam ver-se tantos rostos, daqueles rostos que o coração come quando o amor foge.





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