(IN) PRÓPRIA.

Data 12/03/2010 21:43:09 | Tópico: Poemas

e penso no que não prometo.
ardem-me os dedos como se fossem relógios de pregos,como se todas as métricas fossem sentinelas mordidas.

lavo as mãos no mar distante
e atiro-lhe os meus anos de cansaços.
penso no que me restou, no tempo que passou
e sinto uma espécie de loucura nesta lucidez.

doem-me as mãos do mundo, desenhado do avesso
e mascarado de impaciência.
na corda do sal, descanso o meu recanto
e vejo a peça que fui, no auto do espanto.

depois ponho o pé dormente na ponte
e a mão disforme no sapato,
que dizem ter a forma da alma.
afasto as sobras, componho o lado do sal
e sinto a água húmida penetrar-me no lado direito da vida.

regresso à sola do chão e brinco com o banco que fiz,quando rasguei a porta da invenção.
no final do dia, abandono o plano inclinado do sofá e remendo o que não fiz, como arte surda que não tem cura.

apago a luz e volto ao princípio da metade do meu pé,moldado no poiso do sapato.

Eduarda
12/03/2010


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