
ESPIRAL DE SONETOS SOBRE 2 SONETOS BÁSICOS QUEM ME DERA
Data 13/03/2010 11:10:47 | Tópico: Sonetos
| Pudesse ter nos olhos a alegria De quem se preparou para saber Da vida desenhada com prazer E a sorte cruelmente tudo adia.
A porta que se abrira está fechada, Caminho pelo qual já não consigo Saber sequer se existe algum abrigo Vivenciando o eterno e frio nada.
Amenas ilusões, cruas mentiras, Acordo sem ninguém, torpe rotina, Um sonho tão somente me alucina Aonde mansamente em mim te atiras.
Quem dera ser feliz, ah quem me dera, Já não veria morta, a primavera...
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Já não veria morta, a primavera Depois de tanto inverno vida afora, E quando a solidão feroz se aflora A sorte num instante destempera.
E o gozo de quem tanto quis um dia Beleza deste amor incomparável, Num solo mais tranqüilo quanto arável, Felicidade imensa se irradia
Trazendo vez em quando esta lembrança Do tempo em que feliz seguira em ti Agora que esta estrada já perdi Sequer neste horizonte o olhar avança
Mentindo e sonegando este prazer De quem se preparou para saber.
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De quem se preparou para saber O quanto a vida dói e nos maltrata Sabendo ser a sorte muito ingrata Ansiedade imensa posso ver
No olhar de quem desejo há tantos anos Mergulho sem defesas, plenamente. E quando novo dia se pressente Momentos que queria soberanos
Traduzem a saudade que me invade E nela a dor imensa se permite, Ultrapassando assim qualquer limite Gerando no final a tempestade.
Pudesse ter verão, querido, agora Depois de tanto inverno vida afora.
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Depois de tanto inverno vida afora Percebo no final que a primavera Ainda que se faz em longa espera E mesmo tantas vezes já demora
Um dia chegará, eis o que penso, E o corpo se exaurindo no caminho, Andando em pedregulho, farpa e espinho Gerando este terror cruel e intenso.
Recordo cada passo desta estrada E nela este desenho se apresenta A sorte muitas vezes violenta Traduzindo no fim o mesmo nada.
Quem dera se entranhasse o bom viver Da vida desenhada com prazer
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Da vida desenhada com prazer Apenas recordando cada passo, E dela quando aos poucos me desfaço Não tendo outro caminho, posso ver
A sombra de um passado mais feliz, E agora o tempo traz a negação Bebendo deste mar, ingratidão, Salgando o meu caminho contradiz
Beleza que pensara interminável, Um dia após a noite em temporal, Sabendo este sorriso triunfal Num mar completamente navegável,
Porém a dor percebo desde agora E quando a solidão feroz se aflora.
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E quando a solidão feroz se aflora Não deixa sobrar pedra sobre pedra O amor quando demais a gente medra E tudo num momento vai embora.
Adentro os mais fantásticos caminhos E neles adianto cada passo, Felicidade em sonhos, sei que traço, Criando com prazer diversos ninhos.
Mas tudo não passando de ilusão A queda se anuncia e num tropeço, Do quanto desenhara em paz esqueço O vento muda então de direção
Morrendo dentro em mim a fantasia E a sorte cruelmente tudo adia.
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E a sorte cruelmente tudo adia Terrível amargura em mim se avança Matando o que restara da esperança Gerando tão somente esta agonia.
E o beijo deste amado já não sinto, Tampouco o seu carinho, tão ausente O fim do sonho agora se pressente Amor que tanto quis se vendo extinto
As chaves da emoção segredos tantos, Delírios entre noites, gozos fartos, Vagando vez em quando noutros quartos, Colecionando apenas desencantos.
Quem tanto desejara primava, A sorte num instante destempera.
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A sorte num instante destempera E nada restará do nosso sonho, Diverso deste encanto que proponho Já nem sequer um brilho nos tempera.
Morrendo pouco a pouco, esta ilusão Deixando como herança o sofrimento, Por vezes com ternura ainda tento Vencer as tempestades de verão
E o gesto sendo inútil não repito, Cansada de lutar contra a maré, Ainda que restasse alguma fé, Já não suporto mais tanto conflito
E assim ao me perder na madrugada A porta que se abrira está fechada.
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A porta que se abrira está fechada E nada representa a realidade, O medo do futuro quando invade Trazendo a minha noite tão nublada
Expressa a solidão da qual eu bebo Esta aguardente amarga que me deste O solo se tornando mais agreste Diverso do prazer que inda concebo.
Esqueço dos meus dias mais felizes E sigo esta brumosa noite insana, A sorte muitas vezes nos engana Deixando tão somente cicatrizes,
Se eu tenho algum prazer só fantasia E o gozo de quem tanto quis um dia.
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E o gozo de quem tanto quis um dia Jamais se mostrará ora presente, Por mais que novo tempo se apresente Não posso conceber mais alegria.
O corte aprofundado dentro da alma, Imensas as escaras que carrego, O passo cada vez audaz e cego, Gerando em desamor terrível trauma,
Mesquinhos os caminhos de um amor Que tanto desejei e nunca tive, Vontade simplesmente sobrevive E nela posso mesmo até propor
Um tempo feito em paz, suave abrigo; Caminho pelo qual já não consigo...
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Caminho pelo qual já não consigo Saber dos dissabores mais constantes E neles com certeza me adiantes Ao fim da tempestade algum abrigo.
Eu sei que tantas vezes pude ter Nas mãos além da dor, esta esperança E quando ao mesmo sonho amor me lança Desvendo nos seus olhos meu prazer.
O custo da alegria é longa espera, E o beijo se anuncia redentor, Aonde no passado houvera dor Agora se percebe a primavera
E nela com certeza inesgotável Beleza deste amor incomparável.
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Beleza deste amor incomparável Transcende à própria vida: eternidade E quando rompo algema já sem grade O mundo se transforma, fica arável.
Um gesto mais audaz me faz feliz, Menina muitas vezes sofredora Que quando no passado em tentadora Figura que o presente não desdiz
Espalho os meus desejos por aí Percebo que tu chegas num repente Trazendo tanta luz aonde ausente Caminho muitas vezes percebi
E assim junto de ti já não consigo Saber sequer se existe algum abrigo.
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Saber sequer se existe algum abrigo Vivenciando a treva e a solidão, Distante deste sol, belo verão, A sombra do que fomos eu persigo.
Pensando neste amor que não voltou Deixando tão somente esta saudade, Não posso e não conheço a liberdade, Caminho feito em nuvens se mostrou.
Eu quis amar de novo e não podia, A ausência de carinho me maltrata, A vida com certeza é tão ingrata, Felicidade é mera alegoria
Quem dera outro momento fosse amável Num solo mais tranqüilo quanto arável.
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Num solo mais tranqüilo quanto arável Pudesse cultivar minha esperança A tarde solitária agora avança E o mundo se tornando inabitável,
Vencida pela dor de uma paixão Há tanto destroçada, agora vejo A sombra do que fora meu desejo Guardada há muitos anos no porão,
Renasce após a paz que tanto engana E muda a direção do pensamento, Quem sabe no final terei alento Depois da caminhada amarga e insana?
Mas quando me percebo abandonada Vivenciando o eterno e frio nada.
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Vivenciando o eterno e frio nada Durante a caminhada pela vida, A sorte há muito tempo sem guarida Ferida dentro em mim aprofundada
Vencer os desafetos e prosseguir Não tendo nem sequer a cicatriz É tudo na verdade o que se quis, Imagem radiante de um porvir.
No sonho que domina a noite intensa Qual fora a claridade de uma lua Deitada sob os raios, toda nua Minha alma neste amado tanto pensa
E assim na minha bela fantasia Felicidade imensa se irradia
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Felicidade imensa se irradia No olhar de quem se deu e não pensava Que a vida transformando fogo em lava Destrói todo o caminho em ardentia.
Furiosa tempestade, inundação, O mundo desabando, terremoto, O sonho se tornando então remoto, Apenas neve e frio se darão
Enquanto a poesia me abandona A moça do passado, morta está, E sei que tudo aquilo desde já Retorna com terror, invade a tona
No coração exposto em finas tiras Amenas ilusões, cruas mentiras.
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Amenas ilusões, cruas mentiras É tudo o que me resta. O que fazer? Ausente dos meus olhos o prazer O pouco que me sobra tu retiras,
E quando se mostrasse mais amigo, Eu pude acreditar; doce ilusão. O tempo transformando em negação Aquilo que pensara ser abrigo,
Vestígios de um momento mais feliz Ainda os trago vivos na memória, Final desta aventura merencória A dor que herdei de ti tudo já diz.
Mas quando a noite chega e em luz se avança Trazendo vez em quando esta lembrança.
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Trazendo vez em quando esta lembrança O mundo poderá tramar um dia Aonde a realidade e a fantasia Unidas numa luz feita esperança.
Audaciosamente teimo e busco Lugar aonde possa crer na imensa Beleza que em verdade recompensa O que passara outrora em ar tão brusco.
Vencer os meus temores e tentar De novo após a chuva em tempestade Rompendo cada algema, cada grade E em liberdade enfim, poder voar.
Mas quando o dia a dia descortina Acordo sem ninguém, torpe rotina.
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Acordo sem ninguém, torpe rotina; Depois de não saber sequer se há rumo. Deveras solitária me acostumo, E mesmo uma lembrança inda fascina.
Marcada em tão profunda tatuagem Jamais me libertando do passado, Caminho que conheço, decorado, Repito novamente esta viagem
E volto a ter nos olhos o horizonte Maravilhosamente enternecido O amor que tanto quis não esquecido No sonho, pelo menos já desponte
Revive cada brilho que bebi Do tempo em que feliz seguira em ti.
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Do tempo em que feliz seguira em ti Ainda trago vivo na memória Algum momento ao menos de vitória Depois de tudo aquilo que perdi.
Vencer os meus temores; prosseguir Errático cometa; eu não consigo Sentir e decifrar qualquer perigo Inúteis caminhares do porvir.
Mas tudo revoltando dentro em mim, A moça envelhecida pela dor Não sabe seu destino recompor, A flor já morta e fria no jardim.
Tentando descobrir a fonte e a mina Um sonho tão somente me alucina.
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Um sonho tão somente me alucina E nele tua imagem se preserva, Minha alma de tua alma mera serva É como se uma chuva mansa e fina
Caísse sobre o rumo que previra Nublados os caminhos sem saída Assim ao perceber em despedida O amor que tanto quis e a vida tira
Nos olhos inda trago um mero brilho Vestígio do fulgor de antigamente Realidade dura me desmente E a senda entre espinheiros, ora trilho
Que faço, meu amado, pois, sem ti Agora que esta estrada já perdi.
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Agora que esta estrada já perdi Não posso mais seguir contra a maré Perdendo pouco a pouco minha fé, Jamais encontrarei o que há em ti
A força incandescente de um carinho Delírio feito frágua que incendeia No doce emaranhado, tua teia Na qual, tão suavemente ora me aninho
Sonhar nunca faz mal e me alimenta, E nestas noites duras, solitárias, As ânsias se mostrando sempre várias Apaziguando assim cruel tormenta
E neles reacendo velhas piras Aonde mansamente em mim te atiras.
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Aonde mansamente em mim te atiras Num átimo mergulho sem pensar. Pudesse ao adentrar em raro mar Viver longe de todas as mentiras.
Pudesse pelo menos, quem me dera, Vencer os meus anseios e temores, Colhendo finalmente em ti as flores Plausíveis numa imensa primavera.
Pudesse ser feliz, eu tentaria Vagar contra as tempestas mais ferozes, Dos sonhos escutando brados, vozes, Percebo ser somente fantasia
E quando a realidade em mim se lança Sequer neste horizonte o olhar avança.
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Sequer neste horizonte o olhar avança E deixo para trás a caminhada Sabendo tão distante esta alvorada, Minha alma sobrevive da lembrança.
Eu quis beber da fonte maviosa E dela ter eterna juventude, Mas quando percebê-la vaga eu pude A vida se mostrou em fria glosa.
E os rastros do cometa dito amor Jamais eu consegui reconhecer, Aonde se escondera o meu prazer, A luz já não se põe ao meu dispor
E quando viva em mim terrível fera Quem dera ser feliz, ah quem me dera.
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Quem dera ser feliz, ah quem me dera E ver após a chuva um belo sol, E como fosse assim um girassol Bebendo da alegria em primavera.
Assíduas emoções tomando o peito Daquela que se deu sem perguntar E tendo nos meus olhos este amar Caminho muitas vezes satisfeito.
Mas vejo quão falsário este momento, E nele não percebo mais a luz, O olhar que do passado reproduz O brilho se perdendo, desalento
E quem tanto eu queria, a se perder Mentindo e sonegando este prazer.
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Mentindo e sonegando este prazer A vida destroçando a fantasia, E quando novas luzes eu veria O tempo novamente, escurecer.
Percorro os meus anseios e vontades Desvendo cada queda e seu por que, O mundo que sonhara não se vê Tampouco reconheço claridades.
Os olhos embaçados pelo medo, Vestindo este terror já costumeiro, E quando em novas rotas eu me esgueiro Uma esperança tola me concedo.
Assim domando a dor, terrível fera Já não veria morta, a primavera...
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Já não veria morta, a primavera Tampouco poderia reclamar A ausência da beleza de um luar Que a cada nova noite destempera.
O verso repetindo a minha sina, E nelas os meus enganos em contraste Com toda esta ternura que encontraste Carência toma a conta e me domina
Meus olhos entrelaçam a esperança E ainda buscam luzes no horizonte, Por mais que a realidade desaponte, Futuro sob olhar chegando, avança
Quem sabe a recompensa possa ter De quem se preparou para saber.
VALMAR LOUMANN
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