POEMA DA FOICE E DO MARTELO

Data 13/03/2010 13:53:22 | Tópico: Poemas

a meu pai, em memória - consagro.


a foice fere o fogo
a foice faz o fogo
a foice faz e fere
o inimigo que com ferro fere
quem foi que disse
que a foice foi-se
- não!
a foice fere e finda a fome
a foice mata o fim da fome
- sim!

(que legado é este que recebi de ti meu pai?
ossadas humanas espalhadas no caminho
urubus fartados das carnes magras
da gente miserável do país onde nasci
o vento vinha & varia & arrastava para longe
o cheiro dos mortos
& havia um velho louco com cacos de dentes
na boca que nas noites estreladas - só nas noites
estreladas nas outras não - saía na varanda acen-
dia um cigarro cantava a Internacional
e me contava histórias da Revolução Cubana
o velho tinha lágrimas nos olhos
no brasil vivíamos dias podres
de matanças e torturas
& o velho me contava as proezas de Guevara e Fidel
& eu achava que aqui também podíamos
fazer uma revolução como a Revolução Cubana
nunca dei um tiro na vida
mas achei que - fosse o caso - também pegaria em arma
pela causa vale tudo

o martelo e a foice matariam a morte
o medo
mudariam os modos
dariam fim à miséria
mudariam também as manhãs
os miolos
fariam funcionar os moinhos de novo
o martelo e a foice esmagariam
as mãos canalhas
que torturavam e matavam
o martelo mais a foice
esmagariam as migalhas atiradas ao povo

maldito capitalismo!

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júlio



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