
ESPIRAL DE SONETOS SOBRE 3 SONETOS BÁSICOS
Data 13/03/2010 21:43:45 | Tópico: Poemas
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Aonde se fizesse uma esperança Não pude conseguir felicidade E quando se percebe a tempestade, Aos poucos se perdendo a confiança
Uma alma segue livre, ganhando ares E teima sem destino na amplidão, Exposta aos temporais, ledo verão Traçando a fantasia em vãos altares.
Não posso e nem pretendo ser assim, A imensa sonhadora do passado, O gosto do prazer dita o pecado E o mundo desabando dentro em mim.
Percebo muito além do simples fato E quando não consigo, me retrato...
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E quando não consigo, me retrato E deixo para trás qualquer desejo, O mundo bem melhor já não prevejo, Somente nos meus olhos o maltrato.
Anteriormente eu via alguma luz Aonde a turbulência se fez plena, Nem mesmo a fantasia me serena O corpo sendo exposto. Imensa cruz.
Anseio por caminhos bem diversos Dos que tentara crer serem possíveis. E quando se percebem impossíveis Alheios, sem sentidos, os meus versos.
Assim encaminhando para a morte, Não tendo quem ainda me conforte...
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Não tendo quem ainda me conforte Aguardo algum momento aonde possa Depois de conhecer a dor e a fossa, Ter sob o meu olhar um novo Norte.
Austeridade é tudo o que pretendo, Não poderia ser assim liberta Quem sabe que a verdade é tão incerta, E nela não percebe dividendo.
O gosto do passado ainda vivo Atordoando assim meu paladar, Vontade de talvez ter e levar Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo
Anseio tão somente algum momento Aonde não encontre tal tormento...
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Aonde não encontre tal tormento Apenas o caminho se desfaz E tudo que pensara mais audaz, Diverso do que invade o pensamento.
A voz de um coração enamorado, Audaciosamente se perdeu E quando se percebo imenso breu, Mergulho no vazio deste prado.
Matizes tão complexas, grises céus, E neles os meus dias se perdendo, Aonde se pensara em estupendo Momento se entranhando sob os véus,
E quando a fantasia em vão me invade Não pude conseguir felicidade
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Não pude conseguir felicidade Tampouco inda desejo um novo tempo, Aonde se percebe o contratempo, Não posso deslindar após a grade.
E o jeito é caminhar mesmo que em vão, Atrocidades vejo nesta estrada, Palavra libertária encarcerada Mudando minha história e direção,
Vestindo esta mortalha que inda trago Depois de tanto inverno em minha vida, Percebo quão difícil e imerecida A falta de carinho, de um afago
Vivendo este terror o fim prevejo E deixo para trás qualquer desejo.
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E deixo para trás qualquer desejo Após me perceber tão iludida Aonde se aportasse a minha vida Com trevas e delírios, já negrejo.
O peso do passado enverga quem Pensara ser possível liberdade, Mas quanto mais terror, mais alto brade O coração daquela sem ninguém.
Na ausência de outro rumo vou em frente, Lutando contra tudo e contra todos, Os pés enlameados nestes lodos. O fim já se aproxima e uma alma sente
Sair desta terrível, podre fossa Aguardo algum momento aonde possa.
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Aguardo algum momento aonde possa Viver com mansidão que desconheço, O mundo se fazendo em adereço De vez em quando amarga enquanto adoça.
Vencida, a caminheira não percebe Ainda a claridade que envolvente Ao mesmo tempo nega e já desmente, Tornando mais dorida a velha sebe.
O preço de uma falsa alegoria Não vale mesmo quando se faz pouco, No encanto e desencanto me treslouco, Viver uma alegria? Uma utopia...
Rotina só termina em dor que invade E quando se percebe a tempestade.
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E quando se percebe a tempestade Um tempo mais nublado se anuncia, A sorte se perdendo em noite fria, Deixando como herança a dor que brade
Estímulos diversos? Nem um deles, Amor não poderia me trazer Sequer a menor sombra de um prazer Momentos que pensei sobejos, reles.
E o pêndulo traçando o meu destino, Na inconseqüente luz fascinação, Mergulho neste abismo feito em vão E a força necessária não domino,
Usando esta mortalha de um desejo O mundo bem melhor já não prevejo.
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O mundo bem melhor já não prevejo E sinto a derrocada do meu sonho, Não vejo mais futuro se, medonho, Caminho onde alheia perco o ensejo.
O risco de quem ama se transforma Na imensidão da dor que não me larga, E quando não suporto mais a carga, A vida pouco a pouco me deforma.
E aonde se pensara em um carinho Não tendo outra resposta senão essa, Terrível temporal que recomeça Deixando o meu destino mais sozinho.
Sobreviver então não há quem possa Depois de conhecer a dor e a fossa.
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Depois de conhecer a dor e a fossa Jamais imaginara alguma luz E quando ao nada ser amor conduz Enquanto seduzindo nos destroça.
E o vendaval expondo esta ferida Rondando a minha casa, a morte expõe A face desnudada em que compõe O fim da longa estrada dita vida.
Abandonada e sem sequer sonhar, O beijo que recebo, traição, Momento onde me iludo, sendo vão Não deixa sequer rastro do luar,
E assim quando ao vazio uma alma lança Aos poucos se perdendo a confiança.
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Aos poucos se perdendo a confiança Já não consigo ao menos discernir Se ainda ao meu alcance algum porvir E nele a tempestade sempre avança
Repondo com desdém o que não trago, A saga de uma louca poetisa Que tanto se propõe e não matiza Sequer uma impressão de manso lago.
Atrozes os desníveis que ora encontro E neles se traduz minha amargura, Pudesse transformar minha procura Diverso deste eterno desencontro;
Futuro mentiroso se diz grato Somente nos meus olhos o maltrato.
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Somente nos meus olhos o maltrato Desejo que se fez em falsa luz, Apenas refletindo reproduz O vendaval que agora sei de fato.
Vivenciara ao menos um segundo Aonde poderia em paz viver, E tendo em minha vida o desprazer Nas mágoas mais profanas me aprofundo.
Expondo a minha face aguardo o tapa Medonha realidade se afigura, Aquele a quem amei, vã criatura, Das mãos de quem procura sempre escapa.
Uma ilusão deveras me conforte: Ter sob o meu olhar um novo Norte.
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Ter sob o meu olhar um novo Norte Talvez ainda mostre à caminhante Um dia pelo menos mais constante Que traga com prazer algum suporte.
Esqueço dos meus erros, teus enganos, E tudo recomeça bem ou mal, Amar e desamar, vil ritual Mudando num instante ritos, planos.
Não pude caminhar contra esta imensa Força que traduzindo mera dor, Pudesse cruelmente decompor Gerando ora mormente a dor intensa
Distante dos meus medos, teus altares Uma alma segue livre, ganhando ares
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Uma alma segue livre, ganhando ares E vaga sem destino em pleno ocaso, Da sorte quando amarga, me defaso Ainda me afastando dos Palmares
Que tanto disseminas vida afora, E quando se mostrando mais inglória Distante do que outrora quis vitória Mergulho no vazio e vou embora.
Perceba quão dorida a caminhada De quem ao se propor não percebia Imensidão da dor, feito agonia E nela se presume nova escada.
Na treva que me mundo reproduz Anteriormente eu via alguma luz.
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Anteriormente eu via alguma luz Aonde se percebe totalmente O inútil caminhar que se pressente E ao mesmo nada sempre nos conduz.
Descrevo com carinho cada passo E nele são mesquinhas as falácias Terrível solidão calando audácias E tudo o que quiser já desfaço
Não posso me calar perante à dor Tampouco me entranhar da podridão No amor que tanto eu quis, a negação Permite o nada além a se propor.
E quando me mostrara ledo adendo Austeridade é tudo o que pretendo.
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Austeridade é tudo o que pretendo E não mais saberia prosseguir Sabendo do vazio no porvir Depois dum caminhar tão estupendo.
Bebendo a solidão não posso mais Tentar a solução em novas sendas, E quando as minhas ânsias tu desvendas Prepara esta armadilha em vendavais.
Mordaça em minha boca, não comporta A sina de uma tola caminheira, Que mesmo entre estas pedras já se esgueira Tentando adivinhar se existe porta.
A furiosa dor explode num senão E teima sem destino na amplidão.
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E teima sem destino na amplidão Quem tanto se pensara mais feliz A vida se deveras me desdiz Traçando novo rumo ou direção
Não pode nem sequer trazer com ela O sonho mais audaz, pois sinto morto E quando procurara um simples porto Imensa solidão já se revela.
Vagando como fosse algum cometa, Depois de tantos anos sem ninguém Apenas o vazio me contém E nele uma alma amarga se arremeta
Melhor do que viver a fria cena Aonde a turbulência se fez plena.
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Aonde a turbulência se fez plena Jamais encontrarei a calmaria O mundo a cada sonho não veria Sequer uma emoção que me serena
Nefasta tal imagem que conduzo E nela me espelhando nada vejo, O quanto se pensara em vil desejo Configurando agora tanto abuso.
Usar com maestria uma palavra E dela perceber a qualidade Enquanto o nada ser ainda invade Destroça-se em verdade minha lavra
Quem tenta e da ilusão já não deserta Não poderia ser assim liberta.
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Não poderia ser assim liberta Uma alma sonhadora que se deu Durante a tempestade em pleno breu Vagando pelo mundo quase incerta.
Servil e sofredora não consegue Vencer os seus anseios, sofre tanto E quando se percebe em desencanto Por mais que uma esperança inda navegue
Alvissareiras luzes, dores tantas, Mergulhos num vazio dentro em mim, Pudesse crer na força de um jardim, Mas como se não restam flores, plantas...
E sigo sem defesa ou direção Exposta aos temporais, ledo verão.
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Exposta aos temporais, ledo verão Não sei se poderia crer na luz, Que tanto me maltrata e me seduz Trazendo em si deveras negação.
Poeira se transborda a cada passo, E não consigo mais outra esperança, A sorte se transforma enquanto lança Vazia sensação e me desfaço.
Vencer estas tormentas e seguir Devendo ter no olhar bem mais sombrio, Veneno que ora sorvo inda porfio Traçando tão medonho o meu porvir
E quando a tempestade se faz plena Nem mesmo a fantasia me serena.
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Nem mesmo a fantasia me serena Sabendo quanto traz ansiedade O medo que este sonho se degrade Mudando num repente toda a cena
Não deixa alguma chance para aquela Na qual a poesia ainda entranha, A vida se tornando muito estranha, Destino incoerente já se sela
O peso do viver arcando as costas E nada poderia dar alívio, Quem teve tanta dor em seu convívio Deveras retalhada em finas postas
O amor constantemente já deserta Quem sabe que a verdade é tão incerta.
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Quem sabe que a verdade é tão incerta Não pode mais trazer algum momento Aonde se mostrasse tal tormento Enquanto a dor aos poucos se desperta.
Tentara a qualquer preço outro caminho, Vestida de ilusões, pobre menina, A morte muitas vezes me fascina E dela com certeza me avizinho
Ao terminar cansada a minha lida, Deixando-me levar pelo terror E quando se pensara em novo amor, Memória na verdade dolorida
Vagando sem destino, ruas, bares Traçando a fantasia em vãos altares.
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Traçando a fantasia em vãos altares Jargões tão corriqueiros não serenam, Momentos em que as dores cedo acenam, Destroçam meus jardins e meus pomares.
A bêbada que outrora fora gente, Agora uma indigente, quase pária, A sorte muita vezes necessária A cada amanhecer, sonhos desmente
Não deixa sobrar nada do que fui, Mesquinhas ilusões são quais quimeras E quando em tantos medos tu temperas Castelo que criara aos poucos rui
Ao longe este cenário reproduz O corpo sendo exposto. Imensa cruz.
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O corpo sendo exposto. Imensa cruz Aonde em holocausto já me dei, O amor ao transgredir assim a lei Fatalidade imensa reproduz.
O tempo não suporta algum disfarce Da sorte que deveras me atormenta, A morte se aproxima violenta Sem ter sequer momento em que disfarce
Com atos mais audazes soberanos, Fomenta-se o terror em quem outrora Vivendo a poesia sem demora Encontra pela vida desenganos.
Aos poucos a emoção estou perdendo E nela não percebe dividendo.
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E nela não percebe dividendo; Da sorte desregrada e sem juízo, E quando precisava sem aviso, O mundo em minhas mãos se desfazendo.
Custava pelo menos ter no olhar Razão que permitisse um novo sonho, E quando pouco a pouco decomponho A vida que pensara navegar.
Bisonhos os desejos mais ardentes, Tentando alguma luz já não consigo, Condenando-me então ao desabrigo, Que tanto quanto eu mesma tu pressentes.
Fantasma do que houvera dentro em mim Não posso e nem pretendo ser assim.
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Não posso e nem pretendo ser assim A leda passageira da ilusão E quanto os novos dias me trarão Somente poderei saber no fim.
O corte que jamais se cicatriza, O medo que se estampa em minha face, Realidade ainda que me embace Traduz no meu olhar tempesta e brisa.
Assídua navegante sem destino, Amante sem carinho perco o sono, E quando me entregando ao abandono Percebo amanhecer mais cristalino,
Vagando pelos vários universos Anseio por caminhos bem diversos
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Anseio por caminhos bem diversos Daqueles que esperança preconiza, E quando a realidade é mais precisa Ausente dos meus olhos, lassos versos.
Imensa caricata não consigo Saber do quão possível ser feliz, E tendo demarcada a cicatriz E dela tão somente algum perigo,
Rasgando o coração já não se vê Tampouco quem permita a caminhada, Depois de tanto tempo ora cansada Não tendo nem sabendo de um por que.
No sonho, um pensamento tão cativo, O gosto do passado ainda vivo
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O gosto do passado ainda vivo Por mais que isto pareça uma bobagem. O amor ao desbotar tal paisagem Mostrara-se soberbo ou mais altivo.
Descrevo com carinho cada passo Na busca por algum lugar sereno, E quando solitária me enveneno, O sonho num segundo já desfaço.
Perfaço este caminho rumo ao nada, Somando nossas forças, minha e tua, Uma alma se encontrando outrora nua, Agora no vazio demonstrada.
O fardo que carrego; ter por Fado A imensa sonhadora do passado.
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A imensa sonhadora do passado Jogando sua sorte sem destino, Aonde encontrarei este menino, E o coração em trevas disfarçado.
Pereço quando ausente dos seus braços. Menina que jamais se fez contente, Por mais que uma esperança se apresente, Os dias sempre iguais, doridos, lassos.
Amparo-me na falsa sensação De segurança torpe que me trazes, O amor se permitindo em várias fases Jamais acerta o rumo e a direção.
Acalentando os dias mais terríveis Dos que tentara crer serem possíveis.
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Dos que tentara crer serem possíveis Momentos desairosos são constantes, E mesmo quando em luzes agigantes O corte se percebe em tons horríveis
Por que vieste agora após a chuva? Já não comportaria um novo encanto, E quanto mais presente em mim o pranto, Na sensação dorida, uma viúva
Vivendo do passado agora vê No olhar de um velho amigo, o companheiro, E quando isto parece verdadeiro, Procuro tuas sombras, mas cadê?
Ao mesmo tempo é nuvem e luar Atordoando assim meu paladar.
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Atordoando assim meu paladar As noites embaladas no vazio Amor quanto podia noutro estio Morrendo num inverno secular.
Aprendo a navegar por mar revolto E teimo contra pedras sem a praia Por mais que a realidade ainda traia Vivendo em liberdade sigo solto.
E tenho vez por outra esta vontade De ser além do nada que hoje entranho O ser que mesmo tendo perda ou ganho Concebe no cantar tranqüilidade
Não creio neste tom apregoado: O gosto do prazer dita o pecado?
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O gosto do prazer dita o pecado? Não posso acreditar em tal mentira, O amor quando nos sonhos já se atira Ao sofrimento e a dor está fadado.
Descreves cada dia com ternura, Mas quando se aproxima nada dás, Aonde poderia ter a paz Se mesmo uma alegria não me cura.
Eu quero a liberdade no meu canto Jamais suportaria alguma algema Ausência de futuro já se tema, Porém acostumei-me ao desencanto
Vencer batalhas duras, mesmo incríveis, E quando se percebem impossíveis.
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E quando se percebem impossíveis Os ritos mais comuns do amor mundano, Percebo a cada passo que eu me engano, Delírios são deveras implausíveis.
Os dias se repetem, nada faço, Somente este vazio em minha mente, E quando me disfarço tolamente A vida vai perdendo seu espaço.
Pedisse ao caminheiro algum momento Aonde eu mergulhasse sem defesas, Já não suportaria correntezas Tampouco merecia o sofrimento
E a vida em que desejo caminhar, Vontade de talvez ter e levar.
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Vontade de talvez ter e levar A sorte desta forma bem tranqüila, E quando a realidade me aniquila Não tendo outro caminho, bebo o mar.
E sei quanto salgada a fantasia Deveras em medonha garatuja, Minha alma se sentindo imunda e suja, Aos poucos sem defesas se esvaia.
E o gesto intempestivo de quem ama, Mudando a direção de um vendaval Atravessando o mundo em frágil nau, Mantendo a qualquer custo acesa a chama.
Só sei que nada tenho e sigo assim, E o mundo desabando dentro em mim.
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E o mundo desabando dentro em mim Transcende à própria sorte e me sonega, Bebendo todo o vinho desta adega A morte se aproxima, até que enfim...
O gesto mais audaz de um ser temente Não pode superar qualquer impasse, E quando a fantasia me ultrapasse Jamais cultivaria esta semente.
Jogada pelos cantos sem destino, Sarjetas são meus lares corriqueiros, Aonde semeasse se os canteiros Há tanto destrocei em desatino
Por isso seguem tolos e dispersos Alheios, sem sentidos, os meus versos.
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Alheios, sem sentidos, os meus versos. Falando sobre amor que não percebo, E quando se conhece qual placebo Momento entre carinhos tão dispersos,
Eu singro por caminhos mais complexos Vagando feito em luz parca e sombria, Não tendo da esperança quem me guia, Os dias se perdendo sem os nexos
E vendo o terminar da torpe vida Nos ermos de uma insólita paixão, O traço que queria, de união, Há tanto tendo a corda já rompida
Promessa deste encanto vão, cativo: Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo.
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Um mundo mais tranqüilo, mas me esquivo Depois de conhecer as suas manhas E quando noutro rumo tu te entranhas, Meu peito não se torna mais altivo,
Espero algum momento mais feliz, E disso desenhando caricata Figura que deveras me maltrata E toda a realidade contradiz.
Assisto aos meus minutos derradeiros Alheia aos sofrimentos mais banais, Pudesse desfrutar dos roseirais, Mas como se não tenho mais canteiros.
E quando esta verdade assim destrato Percebo muito além do simples fato.
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Percebo muito além do simples fato Decerto muitas vezes mais comum, E quando me encontrando sem nenhum Caminho, com certeza eu me maltrato.
Amputo as ilusões e morro só, Vasculhos estas gavetas e nada encontro, O amor quando se dá em desencontro Desmoronando a vida, resta em pó.
Escombros do que fomos inda trago, E deles não refaço um novo mundo, Somente no vazio me aprofundo, Observo com temor um velho estrago
E sem ter mais alguém que me suporte Assim encaminhando para a morte.
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Assim encaminhando para a morte, Não via senão dores, tanto espinho, E um velho coração se faz sozinho, E dele não percebo mais aporte.
O mundo se destroça claramente E o beijo que recebo, o de um falsário, Amar e ter aquém do necessário Jamais eu pensaria, mesmo ausente
Das ânsias mais comuns da adolescência E agora quando sei maturidade, Delírio de menina vem e invade Domando toda a minha consciência,
Da paz que já perdi neste tormento Anseio tão somente algum momento.
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Anseio tão somente algum momento Aonde decifrar os meus enredos, E neles coletando velhos medos Somente o que me resta, um vão lamento.
Ouvisse pelo menos um instante A voz de quem vivera a dor outrora, Mas quando a realidade vai embora Sobrando a fantasia delirante,
Não tendo solução, mergulho e cismo Vagando sem saber sequer destino, Ensandecida logo me alucino Sabendo do final em cataclismo,
Percebo quanto amor é vil e ingrato E quando não consigo, me retrato...
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E quando não consigo, me retrato; Falando dos anseios e das dores, Deixando no jardim carinhos, flores, Apenas tão distante algum regato
Aonde poderia esta sedenta Saciar desejos entre luzes, Sabendo que ao vazio me conduzes, Nem mesmo a fantasia me apascenta.
Morresse pelo menos não teria Terrível decepção que tu causaste, A vida se condena a tal desgaste Deixando demarcada esta sombria
Verdade que traduz no fim a morte, Não tendo quem ainda me conforte...
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Não tendo quem ainda me conforte Jamais eu poderia crer no todo, O amor ao se entranhar em lama e lodo Transforma totalmente a nossa sorte,
E sigo desairosa pela vida, Tentando algum momento feito em paz, E quando a realidade é tão mordaz, Decerto já me encontro então, perdida.
Qual fora navegante do não ser, Morrendo a cada tempo mais um pouco, Deveras sem ninguém eu me treslouco E sinto se esvaindo o meu prazer
Quem dera um novo e nobre sentimento Aonde não encontre tal tormento...
VALMAR LOUMANN
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