
ESPIRAL DE SONETOS - MÚMIA HOMENAGEANDO CRUZ E SOUZA
Data 15/03/2010 16:29:58 | Tópico: Poemas
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MÚMIA
Múmia de sangue e lama e terra e treva, Podridão feita deusa de granito, Que surges dos mistérios do Infinito Amamentada na lascívia de Eva.
Tua boca voraz se farta e ceva Na carne e espalhas o terror maldito, O grito humano, o doloroso grito Que um vento estranho para és limbos leva.
Báratros, criptas, dédalos atrozes Escancaram-se aos tétricos, ferozes Uivos tremendos com luxúria e cio...
Ris a punhais de frígidos sarcasmos E deve dar congélidos espasmos O teu beijo de pedra horrendo e frio!...
Cruz e Souza
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“O teu beijo de pedra horrendo e frio” Explode-se em meu rosto, gelidez, Num tétrico momento se desfez Quimérica loucura onde desfio
O gozo em histriônica loucura, Espasmos entre luzes, medos, sombras, E quando se deitando nas alfombras Diversos os delírios, dor e cura.
Etéreas maravilhas entre farsas, Ecléticos prazeres divinais Iridescentes primas em cristais Enquanto me seduzes e me esgarças
Meteoros vagando pelo espaço Ourives da emoção, teu corpo traço...
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Ourives da emoção, teu corpo traço Em lúbricos delírios, luzes fartas, E quando dos meus olhos tu te apartas Seguindo feito um louco cada passo,
Esgueiras entre becos, vilas, ânsias E tramas com sorrisos gozos vários Moldando prazerosos, teus cenários Gerando as mais diversas discrepâncias.
Estrídulos noturnos, vagas ondas, Marulhos entre risos; bebes lua E vendo a tua imagem clara e nua, Enquanto meus desejos buscas, sondas.
Nefasto sonho em gozo assim descrito: “Podridão feita deusa de granito.”
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“Podridão feita deusa de granito” A deusa que em lascívia se acomoda Na cama delirante enquanto roda Girando em carrossel este infinito.
Atravessando os céus, cometas, luzes Imersos entre as nuvens, cintilantes E teimo ver deveras por instantes Belezas com as quais, reinas, seduzes.
E lúbrica deitada sobre a cama, Abraço-te demônio ensandecido, Num ato de terror, fúria e libido, Insensata mulher, doce, me chama
Na fugaz maravilha em que se fez Explode-se em meu rosto, gelidez.
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Explode-se em meu rosto, gelidez, Eflúvios de um momento em sonhos vários E quanto mais além dos necessários Carinhos em que uma ânsia se desfez
Sidéreas fantasias, loucas vagas Mergulho em abissais, intensidade... Tenazes maravilhas quando brades E ao mesmo tempo lúdica me afagas
Ferozes luzes, mantras, ecos, hinos Decifro no teu corpo teus enigmas Marcantes cicatrizes quais estigmas, Ao mesmo tempo gozos, desatinos,
E sinto num momento audaz e aflito “Que surges dos mistérios do Infinito”.
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“Que surges dos mistérios do Infinito” Em meio aos turbilhões sei e pretendo Num ato tresloucado ou estupendo Em fúrias, transtornado anseio e grito
Infames os delírios de um profano Hedônico demônio; em ti me entranho E bebo cada gota deste estranho Veneno pelo qual luto e me engano.
Ferrenhas ilusões, vagos receios, Espúrias fantasias, ares frágeis Os dedos te percorrem, buscam ágeis Caminho entre coxas, boca, seios.
E toda esta estupenda insensatez Num tétrico momento se desfez.
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Num tétrico momento se desfez Ensandecida audácia em noite imensa, Orgástico delírio é recompensa De toda esta fatal estupidez.
Edênicos caminhos percorridos, Vacâncias entre vértices e vagas, Adentro sem temor, sobejas plagas E bebo destas ácidas libidos
Constelares anelos; ondas várias Etéreas excrescências, sombras, luzes, Por tantas paisagens me conduzes, Em ânsias muitas vezes temerárias
Assim ao perceber-te, louca ceva, “Amamentada na lascívia de Eva.”
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“Amamentada na lascívia de Eva” Insana criatura me fascina Dos gozos mais mordazes, doce mina, Ao mesmo tempo luz e imensa treva.
Sedenta, me sacia e mais voraz Adentra os meus delírios com ternura, Enquanto me maltrata e me tortura Intensamente vem e satisfaz.
Espectros do passado me rondando, Cadáveres das dores renascidos, Momentos muitas vezes divididos, Um ar tão tormentoso ou mesmo brando
Emaranhada luz em tom sombrio Quimérica loucura onde desfio.
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Quimérica loucura onde desfio Os meus delírios tantos e fugazes, Enquanto meus prazeres satisfazes, A cada anoitecer, um desafio.
Bebendo cada gota do teu gozo, Explodes feito louca em minhas mãos, Adentro sem perguntas, furnas, vãos Momento de prazer maravilhoso.
Excêntricos caminhos desvendados, Nesta lubricidade que nos doma, Multiplicando além de simples soma, Tremores, cataclismos provocados
No solo dos delírios, morta a treva “Tua boca voraz se farta e ceva”.
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“Tua boca voraz se farta e ceva” De todas as vontades satisfeitas E quando do meu lado tu te deitas, Delícia se mostrando então longeva.
Excêntrico delírio, insensatez, Volúpia se entornando sobre a cama, Teu corpo insaciável já me chama, Penetro mansamente, e agora crês
No quanto se faz sempre necessário Fulgor ensandecendo nossas vidas, Nas fráguas, labaredas percebidas Adentro teus tesouros, qual corsário
E assim se concretiza esta procura: O gozo em histriônica loucura.
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O gozo em histriônica loucura Levando ao céu e ao limbo ao mesmo instante Num ato tresloucado e fascinante, Prazer que tantas vezes me tortura
Lascívia envolvendo nossas peles, Anseios satisfeitos. Imensidão... Momentos delicados mostrarão Delírios com os quais, clamas, compeles.
Num êxtase supremo te idolatro, Ao mesmo tempo em dores, medos fartos, Na incrível maravilha destes partos Ao mesmo tempo diz altar, diz atro.
Explodes em prazer doce e bendito “Na carne e espalhas o terror maldito.”
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“Na carne e espalhas o terror maldito” Enquanto me seduzes com sorrisos, Inferno matizando paraísos, Imerso em tais loucuras, nosso rito.
Nefastas maravilhas noites raras, Ferrenhas emoções em tom tranqüilo, Se pelo Céu deveras eu desfilo A porta dos Infernos me escancaras.
Dicotomia gera insanidade, E teimo em vasculhar cada segredo, Numa ânsia incontrolável logo cedo, E a fúria de um desejo assim me invade,
E lânguida me expondo nas alfombras Espasmos entre luzes, medos, sombras.
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Espasmos entre luzes, medos, sombras Enquanto me dominas com fulgor, Ao mesmo tempo sinto este amargor Terrível caricata tu me assombras,
Espalhas pela casa o teu perfume, Sedento em avidez, descontrolado, Vagando sobre escombros do passado, Sentindo o teu calor, imenso ardume.
Ascendo assim aos vértices do sonho E vago entre as estrelas, cordilheiras, Vontades satisfeitas, corriqueiras, Ao fundo espectro turvo e tão medonho
Derrama sobre a Terra em tom aflito “O grito humano, o doloroso grito.”.
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“O grito humano, o doloroso grito” Invade estas searas mesmo flóreas Entranho por estradas que, marmóreas Transcendem à beleza do granito.
E o quadro se repete novamente, Esdrúxulos caminhos percebidos, Arquejo com a força das libidos, E o gozo tão premente não desmente.
Afetam-se deveras os desejos, Arquétipos de tempos tão terríveis E a sombra dos fantasmas mais temíveis Explodem no meu céu, raros lampejos
Na cama em languidez tu sempre assombras E quando se deitando nas alfombras.
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E quando se deitando nas alfombras Pensara no teu corpo sobre mim, Delírio desenhado; chego ao fim Enquanto vejo vivas tuas sombras.
Abraço-te em sidéreas ilusões E vago qual cometa por espaços Momentos prazerosos são escassos Além do que desnuda ainda expões
Nos sonhos e nas ânsias mais audazes, Mergulho em tuas sendas e desvendo, Em glorioso anseio em que estupendo Caminho dos delírios já perfazes
Entretanto distante vejo a treva “Que um vento estranho para és limbos leva.”
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“Que um vento estranho para és limbos leva.” Deixando o Paraíso entre nós dois, Vivendo sem temor do que depois Ainda possa ser terror e treva.
Audaciosamente te persigo, Vagando pelas sendas infinitas. E quando me aproximo então me excitas Deitando sobre ti, prazer e abrigo.
Os fardos que ainda trago já não pesam, Extraio de teu néctar a delícia Bebendo cada gole com malícia E os medos e temores se desprezam,
Assim em plena luz, brilho e tortura Diversos os delírios, dor e cura.
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Diversos os delírios, dor e cura” Abismos que cavamos num mergulho, A cada queda espinho e pedregulho, Ao mesmo tempo insânia em vã loucura.
Abençoadas noites em que vês O brilho destes astros entre nós, Amor que é salvador, venal e algoz Levando para sempre a lucidez
E adentro em tuas carnes desejosas, Penetro os teus segredos mais profanos E mesmo que inda veja desenganos Sorrindo no momento em que tu gozas
E assim em precipícios mais ferozes “Báratros, criptas, dédalos atrozes”
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“Báratros, criptas, dédalos atrozes” Transfigurando a face desdenhosa De quem ao me ofertar jardim e rosa, Mudando com terror, traçando algozes.
Esgueira-se a venal caricatura Daquela que se fez deusa e rainha, Enquanto a divindade se avizinha, A boca mais sedenta, me tortura.
Apalpam-se desejos incontidos, Incontinentes traços, pesadelos. Sentindo algum prazer ao revivê-los Afloram sem segredos os olvidos
É quando vejo em luzes mais esparsas Etéreas maravilhas entre farsas.
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Etéreas maravilhas entre farsas Desejos desvendados e profanos, A sorte molda acertos entre enganos E nesta insensatez logo disfarças
E ris dos meus demônios incontáveis, Terríveis ilusões, medos vorazes, E quando dos meus sonhos tu desfazes Traçando outros caminhos impalpáveis
Eu beijo tua boca em arrepios E teimo em vasculhar cada segredo, Do gozo que recebo e te concedo, Refeitos feito em ciclos nossos cios
E em meio às ânsias fartas vis algozes “Escancaram-se aos tétricos, ferozes...”
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“Escancaram-se aos tétricos, ferozes” Delírios luzes fartas, sonhos vãos, E neles espalhamos nossos grãos Vagando por espaços, gritos, vozes.
Eclodem nebulosas e quasares Vestígios planetários, astros vários E quando se mostrando temerários Fazemos dos dosséis nossos altares.
Fulguras sobre mim ensandecida, Deidade, rara sílfide, profusa, A fome se sacia e se lambuza Alheia à própria vida que se acida
E tendo no teu corpo raro cais, Ecléticos prazeres divinais.
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Ecléticos prazeres divinais Rastreio teus anseios mato a fome, E a fúria que deveras nos consome, Pedindo cada vez e muito mais.
Ascetas caminhantes noutra sebe Não vêm o delírio que se espalha, A cama sendo um campo de batalha, Unidos vencedores, se percebe.
O caos entrelaçando um infinito, Augúrios variáveis e proféticos, Momentos prazerosos são ecléticos E neles refazemos todo o rito
Enquanto num desejo propicio “Uivos tremendos com luxúria e cio...”
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“Uivos tremendos com luxúria e cio” Somando nossos corpos, florescências E bêbados de luz, vitais essências Vencendo qualquer fúria ou desafio.
Esgueiras pela cama e te procuro, Enlanguescida deusa aqui desnuda, Em serpe esta figura se transmuda, Dourando com ternura o quarto escuro.
Ansiosamente encontro na nudez Suprema maravilha, raro encanto, E tanto quanto quero, mais te canto Além do que pretendes, mesmo vês
Momentos deslumbrantes, magistrais Iridescentes primas em cristais.
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Iridescentes primas em cristais. Fenômenos, luzernas, brilhos tantos, Envolta por neblinas, frágeis mantos A lua com seus raios divinais
Encontra-te em marmórea fantasia, Argêntea insanidade nos domina, E toda a profusão da rara mina, Tomando-me de assalto já sacia.
Irônicas manhãs, noites sedentas Sacrílegos caminhos descobertos, Adentro por portais que agora abertos, Enquanto tu me engoles me apascentas
E assim em correnteza, mil orgasmos “Ris a punhais de frígidos sarcasmos”.
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“Ris a punhais de frígidos sarcasmos”. Envolve-me com pernas, as tenazes Ao mesmo tempo tragas e me trazes Momentos divinais, loucos espasmos.
Assim nesta fantástica viagem Percebo os descaminhos prazerosos, Herméticos fulgores caprichosos, Mudando num segundo a antiga aragem.
Ao fundo se percebe a plena lua Deitando sua prata sobre nós E o vento se aproxima em tom feroz Tocando tua pele, bela e nua
Ao mesmo tempo ris em toscas farsas Enquanto me seduzes e me esgarças.
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Enquanto me seduzes e me esgarças Arrancas meus segredos, minhas peles, Às ânsias e aos delírios me compeles Com a beleza e graça destas garças
Ao mesmo tempo expões tua rapina, Emanas os desejos em lascívia Por mais que uma esperança viva. Prive-a Durante a insanidade que fascina.
Espreito cada bote preparado, Alheia aos meus temores, tu te ris, E sinto-te deveras mais feliz, Ao ver o sonho enfim despedaçado
Preparas para lúbricos sarcasmos “E deve dar congélidos espasmos”...
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“E deve dar congélidos espasmos” Algozes maravilhas me preparas Cevando meus prazeres entre escaras Matando com fulgor velhos marasmos.
E o tempo não se permite outra falácia, Galgando noites tépidas, insone Por mais que uma esperança me abandone Tu trazes num olhar feroz audácia.
E tramas entre chamas, camas, luzes, Fartura mesmo em trágica aridez, No quanto ainda vejo que tu crês Desvendas meus anseios e seduzes
Olhando-te desnuda em sonhos traço Meteoros vagando pelo espaço.
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Meteoros vagando pelo espaço. Adentrando este quarto, seus umbrais Momentos muitas vezes eternais Nos quais por vezes sonhos eu desfaço.
Degraus tão variados desta escada, Delírios entre fogos e geleiras, E quando pela cama tu te esgueiras Às vezes adentrando a madrugada,
Alheia aos meus quereres, meus anseios, Vagando por caminhos que não sei, Talvez ainda creia noutra grei, Enquanto acaricio belos seios,
Percebo no mistério que desfio “O teu beijo de pedra horrendo e frio.”.
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“O teu beijo de pedra horrendo e frio” Por vezes me maltrata, mas depois Na fúria que te entranha; eu vejo, pois Momento deslumbrante em desafio.
Da gélida explosão, doce quimera, Verão que se invernado vez em quando Jamais se reconhece em fogo brando Incêndio que no incêndio regenera
Astuciosa fera me devora, Insaciável deusa, voz e gozo. Caminho tantas vezes caprichoso, Sabendo desde sempre quando é hora
E assim mesmo que morto de cansaço. Ourives da emoção, teu corpo traço...
MARCOS LOURES
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