Deixei que a folhagem morresse no jardim

Data 16/03/2010 13:50:03 | Tópico: Poemas



Deixei que a folhagem morresse no jardim

(Ano 2008, Painel em caneta de prata e ouro e cristais sobre cartolina preta, 70x50 cm)

Julgo que de longe não avisto os céus.
Queria tanto daqui partir. Fugir. Buscar o sol e lançar-me do mais alto.
Não se encobrem de mim as névoas das manhãs.
Encontro-me agora perante o dia que não nasce, lutando para que o sono chegue e me leve daqui.
Os meus olhos cansam-se e já não desperto. Levam-me os que partiram.
Deixei as ilusões e só restou a saudade dos tempos idos.
Queria dançar contigo no Olimpo, entre as nuvens dos nossos sonhos, mas também tudo isso se foi.
Quando vieres, apaga a última chama da vela que acendi na entrada da porta.
Desliga as luzes que jazem para te indicar o caminho e derruba a chave na fechadura da casa onde vivemos.
Dá ao sentimento aquilo que desejas e não ocultes de ti, nem de mim, o sentir dos chãos amadurecidos,
frios e calmos dos caminhos que rodeiam o quintal.
Deixei que a folhagem morresse no jardim. Só para que a sentisses no teu retorno.
Deixei que as candeias há muito se apagassem para que, cego, pudesses ver as entradas da casa.
Regressei.
Lancei em mim um feitiço de mil cores para que pudesse saborear a beleza dos teus olhos e o calor de um coração,
que entra em êxtase, a cada dia que nasce, e morre, como o sol.




Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=124067