Poemas de ti (VI)

Data 19/07/2007 18:08:37 | Tópico: Poemas


Alijo a carga
estendo no chão os meus pertences.
Deixo que o tempo volte,
me molde,
me faça deixar por esquecer
este ferrão
que me arrepanha a pele,
e me torna escravo
de uma esperança moribunda.
Ainda assim penso em ti,
com a nostalgia
calma e serena de um velho,
um sorriso na ponta do lábio,
uma lágrima fresca escapando.
Penso em ti,
como se pensa nos filhos
abrindo os olhos pela primeira vez,
como num chegar breve
ao entardecer
na foz do rio,
como no avistar de uma paisagem
no cimo de qualquer escalada.
Recordo-te
com a felicidade do primeiro beijo
trocado,
no peito aberto às ruas
na aventura clandestina
de ser teu sem me quereres.
Volto a mim,
as mãos fitam minhas rugas cavadas,
deixo que o olhar se liberte
e procure onde poisar.
O vento traz-me a ausência do teu cheiro,
o teu nada
que me dói mais que tudo.
Ergo-me,
enfrento a estrada,
minha carga tem o peso de mais uma memória,
as costas dormentes,
os pés cansados,
o caminho rindo zombeteiro da descrença em mim.
Ergo-me,
e nos passos seguidos de mais passos,
percebo na aragem
que o Sol devolve pelo findar da tarde,
que nunca escaparás de mim,
desta escrita solta, apaixonada
que fazes nascer
em cada batida do meu coração.
A esperança caminha junto a mim.



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