LHASA DE SELA

Data 18/03/2010 22:22:45 | Tópico: Prosas Poéticas

LHASA DE SELA

Há dias em que a música vem dos céus, lá do infinito, das bandas de lá da via láctea. Esta noite apesar de escura como breu, é um desses dias. O escuro da noite só é quebrado pela luz que envolve com enlevo esguia nuvem. Luz que vem da lua e que nesta noite não vê mais e não assesta mais a sua luminosidade do que nessa nuvem quase resplandecente, que langorosamente percorre o céu, como que levando longínquo destino. Enquanto isto uma mãe devora com frenesim os textos do livro da morte do Pensamento Tibetano. Esta mãe interroga-se sobre o nome inspirado a dar a sua recém nascida filha, apesar das suas eventuais incursões num mundo interdito do «canabis», tem sonhos de esperança em relação ao fruto do seu amor. Esse fruto cresce e floresce e o nome que a mãe lhe deu rebuscado no Tibetano mundo é Lhasa. A menina cedo conhece a razão do seu nome e a ele se afeiçoa e descobre a música, e descobre o canto, e encanta quem a escuta na sua voz angélica, cristalina, como que a anunciar edénica fonte. Subitamente e em pleno alvorecer de uma caminhada que prometia ser um cântico à vida, silencia-se e é definitivo esse silêncio.
Lhasa de Sela percorre nesta noite o céu envolta naquela divinal nuvem que não tem fronteiras, ainda que ela, Lhasa, cante , e eu escuto-lhe nesta hora o canto de apologia à fronteira. Não à fronteira politica, mas ás fronteiras que culturalmente distinguem e promovem os povos numa onda de amor universal.
Lhasa de Sela amava a vida e cantava-a de forma inigualável. A sua voz chega-me agora do céu, daquela nuvem diferente que desaparece ao longe e parece ter por destino o infinito.

Antonius





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