sem número

Data 18/03/2010 22:56:09 | Tópico: Textos




imagino que andes cansado, às voltas na cidade-mar flutuante, dentro do corpo fechado o coração lendo, qualquer coisa inquietante, talvez sobre sereias. imagino que não saibas respirar e que como eu sintas os pulmões encolher-se - há dentro de nós buracos que vazam o oxigénio do corpo - tu sabes. também sei que te habitam pensamentos disfarçados, espera, e que os embalas com cânticos de amor e dor, para isso construiste um baloiço de silêncios, conheço-o bem, habita o fundo do jardim abandonado da tua infância. imagino que não saibas da vida que sonhamos, que não a vejas atrás de ti a carregar-te as pegadas para com elas te construir outros caminhos, novos - caminhos de partir. queria-te perto, do outro lado da rua, à espera, ir à janela e ver-te o corpo de homem só, cercar-te de poemas, ditar-te sonhos, como se fosse possível com isto construir outra história que nos pertença. imagino que andes perdido, que não me ouças chamar-te quando a maré sobe ou chove na cidade-mar flutuante aqui.





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