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 “ MEU GLORIOSO PECADO II  HOMENAGEM A GILKA MACHADOData 19/03/2010 20:20:08 | Tópico: Poemas
 
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 MEU GLORIOSO PECADO II
 
 Gilka Machado
 
 Quantas horas felizes, quantos dias
 nos contemplamos sem jamais trocar
 uma frase! - Eu temia... Tu temias...
 Mas como era expressivo nosso olhar!...
 
 Nem uma frase! E tantas melodias
 no meu, no teu silêncio, no do mar,
 no do céu, no das árvores sombrias,
 como tudo se amava sem falar!
 
 Trocamos o vocábulo e (oh! tristeza!)
 Quantas injúrias, que contradição
 nessas palestras de alma em ciúme acesa!
 
 Ah! se mudos ficáramos então,
 não profanara o orgulho e a singeleza
 das palavras sem voz do coração!
 
 GILKA MACHADO
 
 
 1
 
 
 “das palavras sem voz do coração”,
 Delírios que se encontram, mil prazeres
 Tocando com volúpia nossos seres
 Deveras em insânia, com paixão.
 
 No fogaréu intenso que contém
 Delírios sensuais, viagens tantas,
 Enquanto assim te encanto, tu me encantas
 Na imensa maravilha, nosso bem.
 
 Vagando por estrelas, bebo a luz,
 E traço no teu corpo meus caminhos,
 Envoltos pelas chamas dos carinhos,
 Intensa claridade reproduz
 
 Deliciosamente nua do teu lado,
 Meu corpo no teu corpo emoldurado...
 
 
 2
 
 
 “não profanara o orgulho e a singeleza”
 Divinas maravilhas professadas
 Nas ânsias entre as ânsias demarcadas,
 Decerto mais sutis tanta beleza.
 
 Ascendo ao Paraíso e com certeza
 As horas sendo assim abençoadas,
 Desvendo no teu corpo tais estradas
 E sigo sem pensar a correnteza.
 
 Mortalhas do passado? Nunca mais,
 Delírios em desejos magistrais
 Ternura que se aflora em gozo farto,
 
 Na intensidade plena de candura,
 Depois de tanto tempo em vã procura
 Deidade caminhando no meu quarto...
 
 
 3
 
 
 “Ah! se mudos ficáramos então”
 Sabemos decifrar cada sinal,
 Promessa de um momento divinal,
 Eternizando aqui nosso verão.
 
 Adentro os mais diversos paraísos
 Com toques sensuais e delicados,
 Unindo com prazeres nossos fados,
 Vibramos em desejos mais concisos.
 
 Ascendo ao mais sublime patamar,
 Auge da emoção, luzes soberanas
 As noites delicadas e profanas
 Vagando sem destino, céu e mar.
 
 E bêbados dos sonhos tanta entrega,
 Infinitos sem par, amor navega...
 
 
 
 
 4
 
 
 “nessas palestras de alma em ciúme acesa”
 Procuro uma saída que não vejo,
 E quanto mais profano o meu desejo
 Maior no nosso caso esta incerteza
 
 Queria ter no olhar esta pureza
 Que tanto necessitas, mas almejo
 Momento mais feliz e num lampejo
 Imensa claridade diz beleza.
 
 Não posso mais conter esta vontade
 E mesmo que talvez já não te agrade,
 Eu quero mergulhar nos teus anseios,
 
 Sentindo tua pele junto a minha
 Minha alma na tua alma já se aninha,
 Delírio feito em beijos, toques, seios...
 
 
 5
 
 
 “Quantas injúrias, que contradição”
 O amor professa sempre tais loucuras,
 Enquanto mergulhados em ternuras,
 Ao mesmo tempo sinto a negação;
 
 E quero ter em ti ancoradouro,
 Mas sei quão movediço o sentimento
 E nesta insensatez meu desalento,
 Num sol que é tão volúvel não me douro.
 
 Porém eu necessito dos teus dias,
 E sei quantos momentos magistrais
 O amor nos mais divinos rituais
 Além do que deveras fantasias,
 
 E assim nesta inconstante maravilha,
 Minha alma sobre espinhos, pedras, trilha...
 
 
 
 
 
 6
 
 
 
 “Trocamos o vocábulo e (oh! tristeza!)”,
 Por vezes carinhosos noutras não,
 Às vésperas do fim, da solidão
 Pudesse inda conter a correnteza.
 
 E quando se criando a fortaleza
 Tempestas, vendavais se mostrarão,
 Mas nada desviando a direção
 Do amor que se transcorre com firmeza.
 
 Esgarçam-se deveras estes panos,
 E neles nossos medos, desenganos
 Afloram e nos tornam suscetíveis.
 
 Pudéssemos talvez acreditar
 Na força incomparável deste amar,
 Os dias não seriam tão terríveis...
 
 
 7
 
 
 “como tudo se amava sem falar’,
 Somente com os gestos já sabíamos
 Do quanto sem limite nos queríamos
 No encanto que aprendemos desfiar.
 
 Assíduas emoções em passo largo,
 O gozo incomparável, festa e riso,
 Assim ao perceber o Paraíso
 Do quanto te desejo e nunca largo
 
 Aprendi a viver felicidade
 Orgásticos prazeres, noite imensa,
 E tendo neste jogo a recompensa
 Encontro nos teus olhos a deidade
 
 Que tanto procurara a vida inteira,
 A sorte sendo enfim, a companheira...
 
 
 
 
 
 8
 
 
 “no do céu, no das árvores sombrias,”
 Espelhos traduzindo maravilhas
 E ao mesmo tempo cores onde trilhas
 Mundanas emoções e fantasias.
 
 Diverso do que outrora tu querias
 As sortes onde ainda sei não brilhas
 Ascendem às estrelas andarilhas,
 Deixando para trás as noites frias.
 
 Encontro no teu corpo um porto audaz,
 E quando tanto amor nos satisfaz
 Jamais abandonando um sonho intenso.
 
 Se temos o prazer de ser assim,
 Profícuo e fabuloso este jardim,
 E nele em cada flor me recompenso...
 
 
 9
 
 
 “no meu, no teu silêncio, no do mar,”
 Ausência do que fora tão perfeito,
 E quando em solidão, agora deito,
 Vontade de te ter e te tocar.
 
 Bebendo esta saudade, nada faço
 Senão seguir os rastros que deixaste,
 Passado com presente em tal contraste
 Do todo não restando nem um traço.
 
 Mas quando me encontrar contigo, amor,
 Eu hei de mergulhar sem ter perguntas
 As almas caminhando bem mais juntas
 Já sabem deste prado redentor.
 
 E o gozo professado sem limite,
 Que tanta fantasia nos permite....
 
 
 
 
 
 10
 
 
 “Nem uma frase! E tantas melodias”
 Assim neste silêncio do abandono,
 Do amor e do prazer eu já me adono,
 Enquanto novo mundo também crias,
 
 Diversas emoções raiando dias
 E nelas cada gozo, novo abono,
 Os medos mais inúteis, abandono
 E teimo em viver fartas alegrias.
 
 Carícias mais profanas, delicadas,
 As horas em ternura desvendadas
 Percorro sem fronteiras o infinito,
 
 E tendo no teu corpo a minha glória
 A noite nunca amarga ou merencória
 Jamais o coração se mostra aflito...
 
 
 11
 
 
 “Mas como era expressivo nosso olhar”,
 Envolto pelas luzes do desejo,
 E quando mais prazeres eu prevejo,
 Percorro tuas sendas devagar...
 
 E quero cada vez mais ter de ti
 O amor incomparável, nossos rumos,
 E bebo dos teus gozos, tantos sumos,
 Depois de tanto tempo que perdi.
 
 Vagando por espaços magistrais,
 Sorvendo cada gota do rocio,
 O que tu me ofereces, propicio
 E quero cada vez, e sempre, mais.
 
 Assim vamos seguindo nossa vida,
 Num mar sem desencontro nem partida...
 
 
 12
 
 
 “uma frase! - Eu temia... Tu temias...”
 O fim de nosso caso, mas agora
 Ao ver a luz imensa que se aflora
 As noites não serão decerto frias,
 
 Tampouco nossas mãos seguem vazias,
 Jamais se cogitando se lá fora
 A neve do passado ainda ancora,
 Diverso do que tanto mais querias.
 
 Eu beijo tua pele e me arrepio,
 Na eterna sensação de um louco cio,
 Mergulho em oceanos mais profanos.
 
 Não posso suportar sequer a idéia
 Do amor que se perdeu em alma atéia
 Se em ti, divinos ares, soberanos...
 
 13
 
 
 “nos contemplamos sem jamais trocar”
 Palavras que pudessem nos trazer
 Qualquer momento em dor e desprazer,
 Somente desvendando este luar
 
 Que toca tua pele já desnuda
 E vaga noite afora, em prata e luz,
 Ao mesmo tempo enquanto nos conduz
 A sorte do teu lado não se muda.
 
 Assediando estradas benfazejas,
 Penetrando por sendas maviosas
 Enquanto nos meus braços sei que gozas,
 Decerto com mais força me desejas.
 
 E assim ao parearmos emoções,
 Momentos magistrais tu dás e expões.
 
 
 14
 
 
 “Quantas horas felizes, quantos dias”
 De imensa e incomparável fantasia
 O amor com tal vigor nos propicia
 E nele este caminho que sabias
 
 Fantástico momento onde me guias
 Deixando no passado uma agonia,
 A fonte se renova todo dia,
 E nela dessedento em alegrias.
 
 Eternidade mesmo que finita
 A luz que nos rodeia tão bendita
 Permite um caminhar já demarcado
 
 Por cores tão diversas e perfeitas,
 Enquanto me deleito te deleitas
 Num glorioso gozo, o meu pecado...
 
 MARCOS LOURES
 
 
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