
POEMA DO ALÉM
Data 23/03/2010 11:33:55 | Tópico: Poemas
| na rua maria paula em frente à federação espírita do estado de são paulo dois homens dividem restos de comida & uma garrafa de pinga comem enfiando as mãos na mesma vasilha não falam apenas comem com as mãos restos de comida da mesma vasilha entre goles de pinga os restos de comida chegam ao fim a garrafa de pinga já vai pela metade a noite é quente há prenúncio de chuva os dois homens se levantam & começam a catar pontas de cigarro no chão cada ponta de cigarro é um troféu aos dois junta-se um terceiro que traz outra garrafa de pinga mas não levou sorte: perdeu o jantar a pinga esquenta por dentro & engana a fome no prédio da federação espírita do estado de são paulo os vivos conversam com os mortos como se embora vivos já fossem mortos antigos e os mortos como se tivessem chegado aqui neste mundo ontem num voo fretado puta intimidade :encontro entre vivos & mortos dá samba os três homens na calçada ignoram essas coisas do além os três homens na calçada desprezam as coisas do além faz tempo que os três homens estão além muito além do além dona marta diz que é dívida acerto de contas do que fizeram noutra encarnação aceitaram voltar miseráveis para expiar os indianos chamam isso de karma as religiões encontram jeito pra tudo ainda bem karma é uma palavra bonita bem trabalhada até cabe em poesia eu não entendo muito de coisas do outro mundo e nem deste mas de certo modo também vivo no além também vivo noutro mundo não sei qual mas vivo ou acho que vivo como os três homens da rua maria paula deve ser karma - meu amor por você morro de karma
______________ júlio
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