Para Ti...ao ouvido

Data 23/03/2010 21:47:59 | Tópico: Prosas Poéticas

Às vezes fazes-me lembrar um puto, um daqueles transviados putos fugidos da casa de correcção pela janela do rés-do-chão, outras vezes fazes.me lembrar um rato perdido no emmental sem encontrar os buracos e quase sempre um homem escondido na aflição da ironia onde bebe um cocktail de palavras e conversas de treta na seriedade imensa com que se discute as estratégias do jogo do galo. YYY, XXX, horizontal, vertical, obliqua, sempre três.
Conheci um homem que trocava poemas por companhia, garantia ter pena de quem acorda de manhã só. No teu caso, sempre foram penosas as manhãs, sempre foram um prolongar das insones madrugadas carregadas pelo canto dos galos e dúvidas. E de manhã lá estavas tu frente ao espelho da casa de banho, tu e o teu pensamento egoísta, tu e as tuas olheiras profundas, tu e a tua barba crescida que nunca a fazes como deve ser, tu e o teu cabelo comprido e desalinhado. Acho até que devias o cortar, demoras tanto tempo a reconhecer-te como se fosse por aí a demora que tens em crescer.
Sempre tu, tu há séculos, tu e os séculos, tu e os restos. Porque só te aproximas de mim quando queres fazer amor? não me apetece falar de ti, pensar em ti. Aproveita o espelho para acenares a ti mesmo. Tudo o que surge à minha frente é uma grelha em branco do jogo do galo, somos nós dois separados por essas linhas que se cruzam e se misturarem sem se encontrarem, tu YYY eu XXX.
Tenho pena das pessoas que não fazem poemas porque acordam de manhã tão sós como sós vão sentir o dia.



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