«« Envelhecer ««

Data 26/03/2010 10:17:00 | Tópico: Poemas

O ar cheira a cinza
Por dentro o vazio

O vazio faminto quer
Absorver a intempérie
Num rosto de mulher
O meu, paupérie

Não sei ao que cheira
Um brilho difuso
De qualquer maneira
É estranho e confuso

O ar em que habito
É pobre o sentir
de um vazio extinto
num sóbrio tinir

O ar cheira a cinza
E um nó corredio
Esgana a brisa
Em franco fastio

Rosto de mulher
O meu ofuscado
Um amarelecer
Um retrato agastado.

Cheira a cinza o ar
Faúlhas ao saltos
Um vulcão a rosnar.
Cai-me a cinza nos lábios

Rosto de mulher
Anos verdes, ao longe
Saber envelhecer
É sebenta de monge.

Antónia Ruivo


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=125584