Focus

Data 27/03/2010 16:19:10 | Tópico: Textos

Liberta o alentar por detrás dessa cortina de aço e deixa levitar o corpo sobre o palco que recusas por teimosia ou perseverança. De que és composto? Quais os sentidos que te fogem na hora de subires? Também tenho um corpo incontrolado por afagas de maledicência. Por momentos tenho sempre a certeza que controlo a pressão sanguínea deste corpo tantas vezes intrépido que quando o faço nunca tenho a certeza que o faço, sei que nunca controlo nada, apenas o que me é permitido na crua falácia de me possuir a cada olhar, a cada desejo, a cada dor, a cada gota de suor extraída desses ínfimos momentos de sublevação. Justamente não sei, nem sequer quero ser prosas platónicas, um peça de cor, um musical celestial, uma contracena amorosa, porque nunca sei em que momento o pano cai e, em consequência olvidarei uma plateia a plaudir em arrebate ou um gelo glaciar acarretado por ventos putrefactos. De que será composto este alentar? …um mecanismos composto por roldanas? Parece-me simples demais, seria fácil e comummente ajustado e afinado…talvez seja um desdobramento do nossos ser que se torna independente de um único acto porfio que guia e traça um caminho periclitante, a fonte de crimes assumidos pela lógica insensatamente inocente…apesar da vontade, da vontade sempre crescente e dos turbilhões de adjectivos e formas que se pode nomear. E é essa certeza que me empurra de novo para o palco, é essa certeza que permite não camuflar-me num cenário cinzento, ficar acomodada a encenações fora de cartaz, é essa certeza que me abalança sempre na busca de um suspiro novo, um uivar ao vento em tempo de chuva e a loucura, a loucura de ter razão ao ser também plateia, e esse é o meu Zénite, fiel ajudante neste cárcere de normalidade proscrita há muito tempo em fósseis neolíticos, ilusão da minha génese incauta acautelada, mas que ninguém me tire isso. Nem mesmo tu. O que procuro não é relevância dos papéis, apenas expiação litúrgica do sangue, do meu sangue tantas vezes coagulado. Das minhas odes à minha estóica procura, encerram sempre um lugar aberto, e uma loucura desejada é-me sempre suficiente para alimentar esse pulsar louco …e num ápice shakespeariano que invento segundo a segundo, minuto a minuto abrem os meus braços, abarca todas as oferendas do grande espectáculo que mesmo sendo o gelo mais cortante, jamais congela a fortaleza ardente que trago ao peito…mas tu não sabes disso. Abram-se os panos.


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