Teoria dos peidos

Data 31/03/2010 22:10:43 | Tópico: Crónicas

Estou sem ideias. De repente a minha cabeça deu o berro. Algo em mim não está bem. O chapeiro diz que com algum saber extra, é capaz de a consertar. No fundo no fundo, falta aquele clique para meter a primeira velocidade e embalar por aí abaixo no texto. Procuro uma saída e apenas acho baratas a procurar o mesmo que eu. Ainda assim, vou tentar algo que vos faça arreganhar a cremalheira. Esperam aí que só vou à cozinha meter à boca um bico de pato. Óptimo, ainda bem que ainda aqui está.

Entre o escritório e a cozinha surgiu um lance: falar sobre peidos. Calculo que neste momento muitos sensíveis viraram a página por eu não saber falar termo técnico. Outros, já botaram a mão ao nariz. Toda a gente sabe que um bom peido é de todos os remédios o mais o mais eficaz, o mais económico, anti-stressante, desenfastiante, e tem o seu quê de nos transportar para uma metafísica.

O peido não é apenas um som , ele tem a proeza de nos fazer sentir vivos, de marcar a nossa presença em qualquer lugar. Um bom peido faz saber quem manda no pedaço. Se queremos dar por terminada uma conversa de forma democrática, basta dar um daqueles silenciosos para que, indiscretamente, a malta comece a dispersar.

O bem que ele tem é que é de todos o mais social, não tem classe média, baixa ou alta, não tem partido, clube, religião, nem tãopouco faz jus de diploma. Ou seja, ninguém diz que o seu é melhor do que o do outro, nem faz criar inveja do tipo: tomara a mim ter daqueles.
É certo que uns cheiram mais do que outros mas, é pela sua diversidade que o peido torna cada homem tão genuíno quanto a ignorância de cada um. Senão vejamos:

Para o espiritual, o peido é uma alma sem corpo, um começo de uma nova era, ideia, pensamento.

Para o poeta, só não verseja porque é monossilábico

Para o contabilista, o peido é uma perda

Para o político é uma promessa que amanhã haverá mais, muitos mais

Para o padre, é o pecado que ninguém se confessa, nem ele próprio

Para o músico, com algum talento e tal, pode-se fazer bossa nova.

Para o ateu, o peido não existe, pois nunca o viu.

Para o advogado, o peido é uma prova de que a justiça pode ser cega, mas não surda

Para o informático, reinicia que ninguém dá por ela

Para o asmático, quando debaixo do cobertor, é bem melhor do que a bombinha

Para o responsável: cada um fala por si

Para o drogado: só é pena não ser mais intenso.

Para o escritor: é um capítulo onde o narrador fala mais alto que os personagens

Para a florista: se tivesse pétalas e caule… o preço seria melhor

Para o vagabundo: eu não sei, eu não fui, eu não vi, estou aqui de passagem

Para o esfomeado: nem que parta a coluna, este vou comê-lo eu

Para o surdo: oi??

Para a mulher: é masculinidade no seu melhor

Para o cirurgião: bem, pelo menos deu sinal de vida

Para o leiloeiro: quem dá mais?

Para o dirigente da AMI: calma que chega para todos

De juiz para juiz: esteve preso muito tempo mas depois soltou-se

Para o humorista: ora bolas, foi uma piada seca

O polícia que não teve tempo de baixar as calças: porra!, foi falso alarme

Para o gestor: com mais cinco, em vez de dar, passamos a vender

Para o contribuinte: é todos os dias a mesma merda
Para o pacífico: há-de vir, há-de vir

Para o pobre: ó pá, chora praí

Para o rico de Levis: chiça!, este saiu-me caro

Para o cobarde: não, por favor, agora não!

para o poupado: não dou!, não estragasses o teu cu

Para o valente: venham de lá os que vierem

Para o morto: tanta coisa e na hora da morte nem piu disse!

Para o coleccionador: ainda bem que deixa selo

Para o egoísta: é meu e só meu

Para o purista: uma lufada de ar entre dois montes

O caridoso: quantos queres, meu menino?

Para o comunista: toma!, que isto já não vai lá com flores

Para a Mónica Sintra: afinal havia outro

Para a viúva: bem, pelo menos tu ainda vives

Para a virgem:: será isto o prazer? Será que fico grávida?

Para o mentiroso: está a ver aquele senhor careca?

Para o bombeiro: cuidado que fica perto da mata

Para o indeciso: vens ou não vens?

Para o químico: se lhe juntarmos arsénico, adeus torre de Belém

Para o calculista: 4,3,2,1, pum

Para o almirante: alto aí senão disparo!

Para o oportunista: troco um meu por dois teus

Para o saudosista: às vezes faz falta

Para o apostador: quatro a dois ganho eu.

Para o feirante: é bom, é nacional.

Para o pasteleiro: toma lá, embrulha

Para o egocêntrico: tu cala-te!

Para o forreta: só há este, é p’ra mim

Para o atleta: se tens sapatilhas, anda-me apanhar

Para o homossexual: não faças nada depois de eu chegar

Para o obediente: ok, eu dou

Para o ex-desertor: vai tu que eu fico

Para a madre Teresa de Calcutá: é a soma de mosca tsé tsé com malária

Para o super homem: equivalente ao Katrina

Para o curioso: onde houver, eu vou

Para o alquimista: ao Longe…

Para o grevista: queremos mais, queremos mais!

Para o mickael jakcson: tem em branco?

Para o analfabeto: acaba com O ou com U? E alguém responde, é com o cu!

Para o nazi: se te apanho, mato-te

para o cego: quem vem lá?

Para o autor desta crónica: quem os tem, que os preserve.




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