"monta um porco a gasóleo e dá gás nas orelhas"

Data 01/04/2010 22:23:43 | Tópico: Textos

dueto com mar


com o credo na boca, manuel cagão, montou o seu porco a gasóleo na direcção da moita mais próxima. era vê-lo todo encolhido em cima do porco, a dar gás nas orelhas. manuel sofre de incontinência fecal desde criança por isso lhe deram o cognome de cagão. era o porco que lhe valia nas horas de maior aflição, como naturalmente o porco era lento, manuel colocou-lhe entre as nádegas um motor maxion a gasóleo, quando o ligava, era vê-lo de pernas no ar seguro apenas pelas orelhas da criatura, que agarrava com toda a força. o coitado do porco rejubilava de alegria pelo altruísmo com que servia o seu dono. ainda não se tinha habituado ao tubo de escape que lhe havia sido adaptado directamente ao ânus, mas suportava aquele sacrifício em nome duma causa maior: acudir cada caganeira letal do seu tão amado dono. todos os porcos viam nele um exemplo a seguir, tornara-se o único porco inscrito na segurança social, todos os anos apresentava a folha do irs com grande orgulho. este ano tinha sido capa do "notícias para porcos" e a câmara municipal tinha dado o seu nome a uma rua na baixa concelhia: "porco a gasóleo", rua esta que dava directamente para a moita, que se tornara, desde há muito tempo, o local de eleição de Manuel Cagão para fazer as suas valentes cagadas, a la vonté. enquanto esperava pacientemente pelas constantes e demoradas evacuações de Manuel Cagão, o porco gasóleo escrevia com as unhas. ao longo do tempo, havia aprumado a letra e de gatafunhos inelegíveis passara a redigir autênticas obras de arte, dignas dum nobel da literatura. escrevia sobretudo poesia. não eram cagadas, como as de Manuel, mas sim sublimes elegias, odes e também sonetos. porco a gasóleo tornara-se assinante em vários jornais de renome, escrevia crónicas sobre todos os temas, dando especial relevância a flatulência e demais problemas intestinais. sob o pseudónimo de maxion caga concorreu com cinco poemas ao prémio daniel faria, que viria a ganhar, ultrapassando nomes como José Luís Peixoto, sendo inclusive por essa altura convidado para presidir a mesa de júri no concurso do ano seguinte. o sonho de porco a gasóleo era ser reconhecido além fronteiras, internacionalizar as valentes cagadas de manuel cagao, pois aquele lugar havia-se tornado demasiado pequeno para a sua grandeza e a merda já atingira proporções inusitadas. era ver os turistas seguir pela rua porco a gasóleo abaixo e desaparecer na merda aos montes. porco a gasóleo, convidado de tantos eventos e celebrações, já não tinha tempo para servir o seu dono como devia ser, em vez disso comprava-lhe agora fraldas descartáveis no lidl. manuel cagão, que não tinha dinheiro suficiente para lhe dar a indemnização caso o despedisse, embora descontente, lá deixava que lhe fossem chegando pó de talco ao cú, sempre cheirava bem. no entanto numa bela e solarenga tarde de abril, farto que o talco lhe fosse ao cú e deprimido pela constante traição do seu porco a gasóleo, manuel cagão, num daqueles dias de desespero total, deixou-se cagar tanto, mas tanto, que se afogou na puta da própria merda.






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