8.A Gaveta da Pedra
Data 03/04/2010 15:28:04 | Tópico: Poemas
| Vives só, Unicamente só, No segredo de quem sente o silencio. No sonho de quem se entrega ao lençol das palavras sangue. És a tua gaveta. E escorregas para um lugar por ti seguro e escondes-te. Porque o cão canta no precipício aguardando o passo. Basta apenas um passo. e beija-te a chuva que tão bem conheces. Sabes que és da sua matéria. És as suas ruínas e o seu sangue. Sabes que és tu o cão que canta por dentro E com as flores dos outros cobres este animal. E cultivas no sangue esta pedra. Pássaro que assim vive. Dentro do cão que canta dentro. Dentro, desprende a sua voz. O cão canta e voa. Vem a noite mais uma vez e tu nada dizes. A ferida está viva na garganta de lodo e luz. Pegas no corpo breve e mergulhas-te no marfim das flores. É assim que acalmas as feridas de quem ama. No princípio, bastava chorar um pouco. Agora, um cão canta e voa. Sei que mentes enquanto escavas palavras para lamber-te as feridas. o cão também voa. e o seu coração é uma asa onde tua voz pode adormecer, Aconchegada. Enquanto isto, Procuras polegares de quem morre. Foste tu que incentivaste a morte. Num beijo nu. A morte é vermelha, disseste.
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