DUETO DE EMOÇÕES...DUETO C/ BEIJA-FLOR

Data 05/04/2010 20:15:36 | Tópico: Poemas

Em vez de palavras ofereceste-me uma pedra. Deslizei para o chão e senti na cabeça apagada o som de Bob Marley. Não sei quanto tempo fiquei na soleira da porta, aguardando uma qualquer resolução. Dizimei o trigo e o incenso e fechei a mão sem ponto cardeal no cabelo perdido do silêncio. Desfiz as malas das palavras mutantes das lajes, e imolei-me na lua vermelha como bola de fogo que esculpi no sangue quebrado do sono

Como bala certeira e invisível me cruzaste os dogmas, guilhotina de silêncios destilados em soberbos chicotes de raiva, tumbas floridas pelos lilases das minhas emoções.
Quis beber desse fogo ardente nas searas fulgurantes da musica auspiciosa que te corria no espanto, acordar-te do sono fútil dessa frieza crua, cruel e desordeira. Deambulei tricotando o áspero dos dias, numa fome mortífera e metamórfica, esperando em gemidos espremidos não sei quantos milagres, que julguei apresentarem-se ali, nas cavernas aprisionadas da soleira da porta.

Sabia-te enlutado na escara calcinada da chuva enquanto eu não passava dum betume encurralado de corcel. Abri a cauda frenética da porta do enxofre e vi o teu olhar como peixe de musgo disfarçado de vinho. Estendi-te a mão na lâmpada clandestina do poema e cosi-te as mãos rasgadas de desordem. Como ímpeto de converter a terra ressequida, enterrámos o fumo da seiva na cal da vaga e mudámos a cor da espiga no papel do pássaro, na vontade de existirmos como espasmo gótico da humanidade.

Eduarda e Beija-Flor
05/04/2010

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