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Data 06/04/2010 21:44:49 | Tópico: Textos

-eugénio de andrade-




"Toda a poesia é luminosa, até
a mais obscura.
O leitor é que tem às vezes,
em lugar de sol, nevoeiro dentro de si."
eugénio de andrade



que fizeram de ti assim sossegado, quieto, nos jardins do palácio a escrever versos de amor ou amor do verso. já ninguém diz às flores quando chega a primavera. já ninguém sabe que já é a primavera. se escrevesses só mais um jardim, um jardim que fosse, de flores verdadeiras, crisântemos, dálias, amores-perfeitos, rosas, se o escrevesses no meu rosto, se o escrevesses na minha boca para o dizer ao mundo. e que a puta da minha mãe te lesse, que te soubesse, que te pudesse ler: traí-te, amei-te mãe, como a mais ninguém. a noite é grande, eugénio, sabes bem. a noite é grande e eu sou tão só. como hei-de dizer adeus a quem nunca soube dos peixes, verdes, a morrer-me dentro dos olhos. como hei-de dizer adeus. não há litanias que me salvem. estou tão só e é tão grande a noite.











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