CANÇÃO SEM TEMPO

Data 07/04/2010 16:19:03 | Tópico: Poemas

no porão da casa velha da rua conde de são joaquim
ouço tosses... tosses...
lembranças da avó?
prenúncio de tuberculose?

espio o baú adormecido faz tempo
a torneira enferrujada volta a respirar no tanque
solta um gemido de água morna...

no porão da casa velha
os mortos brigam pela partilha no inventário
só a negra velha não briga por nada
aparece de repente com sua boca desdentada
olha para mim e se ri
pergunto-lhe o motivo da graça
ela dá uma cusparada de fumo mascado e responde:

- Ué, sêo poeta, o senhor não ouviu,não?! São as criancinhas mortas querendo brincar com Menino Jesus de Praga, lá no oratório da vossa avó...

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júlio





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