indistância

Data 07/04/2010 20:36:33 | Tópico: Poemas

do meu próximo livro: "Quando a maré sobe, aforismos\euforismos"
a 15 de julho 2010 na feira do livro de Barcelos

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O sol é uma enorme cabeça que nos espreita.
E a terra é um punhado de elementos vagos
Eu respiro porque me dão ordens para respirar.
O silêncio é um grito invertido. Que escutais vós quando me calo?
Haverá sempre uma vírgula a mudar o sentido?
Que raios de almanaques são estes que nos deram para devorar?
Vamos todos contar até três e começar tudo de novo?
Se choro é porque o mar também chora. É um direito meu!
Deus criou-nos sem nunca nos ter criado
Não me façam voltar atrás nas orações
Eu vejo o poeta roendo capítulos da sua infância
Se a lógica existe, por que nunca pariu um economista?
Uma porta ali. Outra acolá. Por detrás delas um mundo.
Mas que mundo? Se o mundo nem a si se pertence.
Quem me diz que eu não sou?
Há verbos demasiados. Pisados como frutos
Conta-me como foi erguer somente a pata de uma sombra
Não vedes que eu não entendo de arquitecturas planas!
Nem de magnólias que caminham sôfregas
O sonho pode ser um lugar. Onde se cruzam abcissas.
Amanhã estou cá, deixa-me deslumbrar mais um bocado
neste vestido magoado. Que é o silêncio. Que é circunflexo memorial.

Que vejo eu senão a minha própria distância!

flávio lopes da silva


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